Título: Venezuela cria banda para tentar conter dólar
Autor: Uchoa, Rodrigo
Fonte: Valor Econômico, 19/05/2010, Internacional, p. A11

de São Paulo

A Venezuela vai estabelecer uma banda para o dólar não oficial e usará o valor dos títulos do Tesouro como referência para os limites. O objetivo é tentar conter a disparada da moeda americana. Analistas dizem, porém, que o governo não tem capacidade de intervenção o suficiente para controlar essa banda, já que suas reservas internacionais estão em queda e a entrada de dólares no país vem sendo usada em grande parte para liquidar dívidas já vencidas. Ontem entrou em vigor a lei de ilícitos cambiais aprovada às pressas pelo governo para tentar evitar a excessiva depreciação do bolívar forte. A lei dá poder ao Banco Central venezuelano para decidir quem pode vender moeda estrangeira e quanto. As autoridades monetárias não especificaram qual seria a banda adotada no país para o dólar livre, mas afirmaram que ela entrará em vigor em no máximo 15 dias. Asdrúbal Oliveros, diretor da consultoria Ecoanalítica, avalia que a capacidade de intervenção no mercado está limitada pela queda nas reservas. Desde o começo do ano, "quase um quarto das reservas foi transferido para um fundo de desenvolvimento do governo, e os dólares que entram são insuficientes para dar conta da demanda dos importadores e de compromissos já vencidos", disse. As reservas da Venezuela estão em US$ 27,8 bilhões. As do Brasil estão em quase US$ 250 bilhões. Segundo análise do Goldman Sachs, a Venezuela está próxima de uma crise cambial. Para o banco de investimentos americano, o país pode ter de desvalorizar o bolívar forte novamente em 2011. A última intervenção do BC para tentar segurar o dólar fracassou. O BC vendeu US$ 523 milhões, mas a moeda venezuelana continuou em queda. Em janeiro, o governo desvalorizou o bolívar pela primeira vez desde 2003. A cotação livre está agora acima de 8 bolívares por dólar; a oficial é de 4,30 bolívares por dólar e a cotação especial para importação de produtos essenciais, como alimentos, é de de 2,60. Como faltam dólares pelo câmbio oficial, cerca de 30% das importações são feitas pelo dólar livre, segundo a Ecoanalítica. Analistas dizem que essa escassez equivale a um "corralito" financeiro. O presidente do BC, Nelson Merentes, disse ontem que a ideia de "corralito" é "absurda". Segundo ele, a oferta de dólares cresceu 10% nos quatro primeiros meses do ano. E haveria um excesso de liquidez em bolívares no país. Para Merentes, o BC mostrará regras claras para o mercado e, com isso, "vai acabar com a especulação". O governo diz que os especuladores são responsáveis pela inflação em alta.