Título: Para analistas, emprego continuará a pressionar a inflação no próximo ano
Autor: Bittencourt , Angela
Fonte: Valor Econômico, 17/05/2010, Brasil, p. A2

O processo inflacionário continuará tendo o mercado de trabalho como combustível no ano que vem. A criação de novos postos de trabalho em abril, que será divulgada nesta segunda-feira pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) reforçará a percepção de que o mercado de trabalho seguirá aquecido.

Estimativa da LCA Consultores é da abertura de 311.593 vagas em abril. Esse resultado mensal, se confirmado, será o melhor da série iniciada em 1992 e levará o estoque de mão-de-obra formal na indústria ao nível pré-crise. A consultoria calcula que a indústria responderá por 106.408 postos ou 34% do total aberto no mês passado.

Economistas entendem que o aperto monetário vai desacelerar o ritmo da atividade, mas o efeito desse aperto na inflação - em convergência para o centro da meta de 4,5% - ajudará a preservar o poder de compra dos trabalhadores.

A desaceleração de indicadores de rendimento e massa salarial em 2011 será expressiva, mas apenas parte dela refletirá o aperto monetário, alertam economistas. A aplicação da regra do governo para o reajuste do salário mínimo também afetará os dados que podem dar a falsa impressão de alívio no mercado de trabalho.

A massa salarial que deverá crescer 5,5% em termos reais este ano, terá avanço de 2,2% em 2011, mas a projeção para o ano que vem leva em conta a regra do governo que determina o reajuste do salário mínimo pela inflação e variação do Produto Interno Bruto (PIB) de dois anos antes. Portanto, a queda do PIB de 2009 afetará o cálculo, explica Luiza Rodrigues, economista do Santander.

"O aperto monetário vai desacelerar a economia, mas o mercado de trabalho não será tão prejudicado. Tanto que projetamos uma queda marginal do desemprego. De 7% em 2010 para 6,9% em 2011", acrescenta Luiza. Thaís Zara, economista-chefe da Rosenberg Consultores Associados, avalia que o tripé formado por renda, emprego e crédito continuará embalando o consumo em 2011, mesmo com o crédito mais restrito e a massa salarial sofrendo desaceleração.

"Além do aperto monetário freando a economia, teremos a contribuição do aperto fiscal que é sempre mais forte no primeiro ano de novo governo. Ainda assim, esperamos aumento discreto na taxa de desemprego em relação a 2010, que projetamos em 7,5%", comenta Thaís.

Fábio Romão, economista da LCA Consultores, acredita que o aperto monetário afetará o mercado de trabalho no ano que vem, mas também alerta que o efeito não será drástico porque haverá um ainda importante crescimento de ocupados, da ordem de 2,6% em 2011.

Essa expansão é inferior à prevista pela consultoria para este ano, de 3,2%, mas o estoque de trabalhadores ocupados seguirá com um avanço firme. No caso do rendimento real, o ganho esperado para este ano é de 1,7%. Isso perfaz um aumento da massa salarial real em 5%, segundo estimativa feita pela LCA para o Brasil inteiro e não apenas para as regiões metropolitanas.

Fábio Romão, especialista em mercado de trabalho, alerta que além da geração líquida de novas vagas com carteira assinada (mais de 2 milhões em 2010 e 1,6 milhão em 2011) é necessário considerar que está em curso no Brasil um importante processo de formalização do emprego. "Esse movimento é identificado principalmente na construção civil - setor que, além de ser historicamente mais informal, vem mostrando forte dinamismo", comenta o economista.

A LCA, a exemplo do Santander e da Rosenberg Associados, projeta expansão de 4,5% do PIB no ano que vem. Romão pondera que a desaceleração é decorrente do aperto monetário que também deverá trazer a inflação de 5,1% neste ano, segundo estimativas da consultoria, para 4,9% em 2011.

"Para moderar o ímpeto inflacionário, o Banco Central precisa agir antecipadamente e, por ora, contamos com um ciclo de alta da Selic de 250 pontos-base. Um primeiro ajuste de 75 pontos já ocorreu na reunião do Copom de abril. Esperamos mais 75 pontos de aumento na reunião de junho e mais duas rodadas de 50 pontos cada uma. Mas consideramos que existe uma chance não desprezível de aumento da Selic de 100 pontos em junho", conclui o economista.