Título: Para BNDES e Finep, inovação demanda tempo
Autor: Magalhães, Heloísa
Fonte: Valor Econômico, 15/03/2010, Brasil, p. A5

A falta de tradição eminvestir em inovação, um empresariado marcado por longos períodos deincertezas na economia e uma ainda recente ação governamentalcoordenada de apoio ao desenvolvimento em tecnologia mais sofisticadasão parte do diagnóstico de que o país ainda tem muito a caminhar paraganhar maior espaço entre àqueles que conquistam posições diferenciadasquanto se trata de alta tecnologia.

Aquestão é se ainda há lugares no bonde da história. Passados quase seteanos da primeiro movimento coordenado do governo Lula voltado aoincentivo à inovação e desenvolvimento tecnológico com a PolíticaIndustrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (Pitce) há críticas deque, até agora, os resultados são incipientes.

Umadas questões básicas com poucas respostas é se o país vai se consolidarcomo exportador de commodities de sucesso mas, em paralelo, continuarámantendo sucessivo saldo devedor na balança comercial quanto aos itensde alta complexidade tecnológica.

"Oconjunto do sistema de incentivos brasileiro tem sido pouco eficaz emalterar de maneira mais radical o quadro da inovação brasileira" resumeestudo de uma série chamada "Desafios da Inovação", do Instituto deEstudos para o Desenvolvimento Industria (Iedi). A entidade avalia que"inovação é o que em última análise promove o crescimento de longoprazo de uma economia e assegura sua competitividade a nível global".Por isso, para o Iedi, ela deve figurar no primeiro bloco depreocupações de um programa de desenvolvimento econômico para o país.

Paraquem atua de perto na destinação dos recursos e no movimento dasempresas brasileiras envolvidas em projetos de inovação, "ainda é cedopara medir resultados" das ações que começaram a ser deflagras nogoverno tucano e se ampliaram no petista. "Os instrumentos sãorecentes", afirma o presidente da Financiadora de Estudos e Projetos(Finep), Luiz Fernandes.

Oprimeiro passo da década de apoio à inovação foi o Fundo Verde Amarelo(2002). A Pitce foi anunciada em 2003 e ampliada em 2009 com a Políticade Desenvolvimento Produtivo (PDP). A Lei de Inovação chegou em 2004,mas o principal mecanismo de apoio à inovação é a subvençãoregulamentada por decreto presidencial em 2005. "O primeiro edital saiuem 2006 e os primeiros desembolsos em 2007. São só dois anos e pouco deexecução de um instrumento. Estamos no meio do processo", diz opresidente da Finep.

Odiretor de Planejamento do BNDES, João Carlos Ferraz, também destacaque o processo de inovação é lento: " Inovação é de longo prazo e temque vencer resistências". Ele é um dos que avaliam que falta tradiçãono empresariado brasileiro para focar em projetos de inovação.

"Épreciso perceber que é um negócio que vai dar um diferencial lá nafrente. Acho que é uma coisa do país, do ambiente e seus momentos deincerteza que definem uma postura mais conservadora. Não conservador nosentido político, mas nos seus ativos, na baixa disposição ao risco ena falta, lá atrás, de políticas consequentes e duradouras. Quantosempresários existem como os da Totvs , quantos da Bematech, da Aché?Agora, não é porque o empresário não é inovador. Tem Havaianas, SãoPaulo Fashion Week, tudo criativo para danar, mas transformar emnegócio é de longo prazo", afirma.

Elemostra uma caixa de costura e diz: "Meu trabalho é fazer costuras.Somos muito bons em idealizar, desenhar, implementar e avaliar. Todostemos boas ideias, mas colocar um projeto de pé dá um trabalho... ficocosturando as coisas o dia inteiro", brinca.

"Inovaçãoestá crescendo em termos de prioridade no país, mas este processodemanda persistência, longo prazo, tenacidade, tanto do ponto de vistado empresário como dos institutos de pesquisa e do governo. Osresultados de uma política que pretende fazer mudança estrutural semede em décadas. São dez, quinze, vinte anos, não são políticas decurto prazo", diz. o diretor de planejamento do BNDES.

Elelembra que a estrutura industrial brasileira é composta de setoresnaturalmente inerentes de baixa densidade em pesquisa e desenvolvimentoaliada disposição empresarial ao risco baixa. Isso por um lado. Poroutro lado, até a entrada do (Ronaldo) Sardenberg (ministro da Ciênciae Tecnologia no governo Fernando Henrique Cardoso) careciam decontinuidade e evolução das políticas de apoio à mudança estrutura",afirma Ferraz.

Eleexplica que a estrutura industrial brasileira é complexa. "A percepçãonossa, a síntese, que temos que mudar por dentro e por fora. Temos quemudar por dentro ou seja aonde nos temos empresas competitivas que sãomuito competitivas o seu setor terá destaca na estrutura industrialbrasileira, commodities, diga de passagem, tem que fortalecer essasempresas. E não só fortalecer patrimonialmente, competitivamente, masfortalecer em termos de dar mais densidade, estender o que for possívelos investimentos em inovação dado as limitações de que tem a indústria,por exemplo, de minério de ferro que não é uma indústria de chips.Temos que trabalhar por dentro não só a empresa mas sua cadeia. E porfora, suas empresas de software, de defesa, biotecnologia. A políticade desenvolvimento produtivo ela está direcionada a elevar o patamar decompetitividade e capacidade inovativa a partir do estágio dedesenvolvimento que a empresa ou o setor estão", diz

Fernandes, da Finep, por sua vez, lembra que o Brasil tem muitaspotencialidades de capacidade clara em vários segmentos mas o "grandedilema é o desafio de passar do conhecimento para a geração deriqueza". Um caminho é o de ampliar investimentos privados em pesquisae desenvolvimento indo além da presença do Estado. Ele diz que quantoaos investimentos públicos em ciência e tecnologia e inovação o patamaré o mesmo dos países ricos, entre 0,7% a 0,8% do PIB. Só que nos paísesmais ricos o investimento público alavanca o privado que é duas ou trêsvezes maior que o brasileiro.

Aanálise do Iedi mostra que para o objetivo de elevar o gasto privado,como é proposto pela PDP, de 0,61% para 0,65% do PIB, é necessáriorever a forma de incentivar as empresas. Mantendo o patamar de incetivoatual, isso exigiria que o apoio governamental subisse de 0,07% para0,09% do PIB.