Título: País chegou a ser referência em tecnologias para a cana
Autor: Batista, Fabiana
Fonte: Valor Econômico, 21/05/2010, Agronegócios, p. B12

Antes de iniciar a curva descendente, deflagrada pelo fim do apoio de Moscou , a produção açucareira de Cuba era referência mundial em tecnologia. O país detinha as melhores produtividades agrícolas, superiores até às do Brasil na época. No fim da década de 1980, quase 100% da colheita da cana em Cuba já era feita por máquinas, índice que em 2009, no Brasil, estava um pouco acima de 50% no Centro-Sul, região canavieira mais pujante do país.

Luiz Custódio Martins, um dos dirigentes do setor sucroalcooleiro que mais conhece a produção da cana no país socialista, conta que as primeiras máquinas de colher cana testadas no Brasil, há mais de dez anos, vieram de Cuba. "Eram as colheitadeiras KTP que foram testadas, na época, na usina Costa Pinto, em Piracicaba (SP), pertencente à Cosan", lembra.

Mas, então, continua ele, algumas montadoras já estavam pesquisando máquinas mais avançadas e, o modelo cubano, acabou não sendo adotado.

O bloqueio americano e o fim do apoio soviético minou a capacidade cubana de adquirir adubo e defensivos e a produtividade do canaviais caiu para o nível de 35 toneladas por hectares - no Brasil atualmente está acima de 80 toneladas. "A produtividade lá era igual e até melhor que a do Brasil", afirma Custódio.

Uma outra relíquia da indústria canavieira cubana é a tecnologia para produzir vodka com álcool de cana. "Os cubanos têm tecnologia de envelhecimento acelerado de aguardente, por meio do qual se atinge em 72 horas bebida com qualidade equivalente a se tivesse sido envelhecida em barris por sete anos", conta Custódio, que guarda a tecnologia a sete chaves à espera de um parceiro estratégico em distribuição que viabilize a produção da bebida em sua usina, a Jetiboca, em Minas Gerais.

Veio também de Cuba o conhecimento de uso do mel da cana junto com levedura do álcool para alimentação de suínos, em substituição à ração convencional usada no Brasil, feita com soja e milho. "É uma saída quando os preços dos grãos estão muito altos e têm o mesmo desempenho da ração convencional".

Algumas tecnologias de estação de limpeza das impurezas da cana-de-açúcar trazida da lavoura também foram importadas de Cuba e implantadas em usinas do Nordeste há alguns anos, conta Custódio. "Atualmente, Cuba está atrasada tecnologicamente, mas por falta de dinheiro para usar esses recursos mais avançados. No entanto, seus pesquisadores e técnicos conhecem toda a tecnologia usada atualmente pelo Brasil, por exemplo", diz.(FB)