Título: Brasil oferece mais oportunidades para estrangeiros
Autor: Olmos, Marli
Fonte: Valor Econômico, 21/05/2010, Empresas, p. B8

Os tradicionais fabricantes de veículos da Europa, Estados Unidos e Japão têm espaço garantido no Brasil, onde não há nenhuma montadora local de peso. Mas a atuação dessas marcas, que viram seus mercados de origem encolher nos últimos tempos, não será tão fácil nos demais países que compõem o bloco Bric.

Segundo um estudo do Boston Consulting Group sobre a tendência de esse bloco de emergentes ocupar mais espaço no mercado mundial, empresas locais tendem a crescer na China e Índia.

A participação de marcas locais passou de 49% para 52% na China entre 2008 e 2009. E deverá avançar para 55% em 2014, segundo o estudo do BCG. Para entrar no mercado chinês, todas as multinacionais do setor automotivo tiveram que atender a uma legislação que as obrigou a fazer parcerias com empresas chinesas.

Na Índia, onde o grupo Tata se consagrou com o lançamento do seu compacto de baixo custo, o Nano, a participação das marcas locais deverá crescer de 30% para 33% em quatro anos. Ao mesmo tempo, as montadoras estrangeiras com fábricas no país verão sua participação encolher de 70% para 66%.

Na Rússia, segundo o estudo do BCG, o cenário deverá seguir rumo oposto, com aumento da participação de fabricantes de outros países, principalmente da Europa. No mercado russo, existe hoje um equilíbrio entre a produção de marcas locais, a produção de marcas estrangeiras e a importação.

No Brasil, onde as multinacionais de todos os continentes sempre reinaram sozinhas, o quadro não deverá mudar. O estudo aponta até um aumento da fatia dessas empresas em 2014 - passará dos 81% atuais para 83%. Esses fabricantes, que vêm da Europa, Ásia e Estados Unidos, tendem a aproveitar a ausência da concorrência de um produtor de veículos brasileiro.

O Brasil conta hoje com 19 fábricas de montadoras estrangeiras. Também é formado, em sua maioria, por capital estrangeiro, o parque de autopeças, que soma 50 fábricas. O pedaço de mercado composto por carros importados subiu no último ano, passando de 14% em 2008 para 19% no ano seguinte. Entretanto, a avaliação do Boston Consulting Group é que a parcela dos veículos estrangeiros deverá cair, para 17%, em 2014.

As vendas de veículos no bloco Bric, que somaram 16 milhões de unidades em 2008, deverão chegar a 24,9 milhões daqui a quatro anos. Até lá a China será dona de 61% do volume. Dos 15,3 milhões de veículos que os chineses deverão consumir em 2014, 8,4 milhões serão produzidos por empresas de origem chinesa. As multinacionais que aproveitam o potencial desse país deverão, em 2014, vender 6,6 milhões de unidades. É duas vezes o tamanho do mercado brasileiro hoje. Os importados terão pouco espaço no mercado chinês, segundo o estudo, com, participação de apenas 0,3%.

Até 2014, o mercado brasileiro deverá estar entre 3,5 milhões e 4 milhões de unidades. Será maior do que o da Índia, com 3 milhões segundo essas projeções. Já a Rússia, que viu o mercado interno encolher de 3 milhões para 1,5 milhão de 2008 para 2009, poderá alcançar 3,1 milhões de veículos em 2014.

O mesmo estudo revela, ainda, que a vocação de exportação de peças está mesmo com a China. Os chineses venderam somente em 2008 o equivalente a US$ 30 bilhões em componentes. O Brasil aparece em segundo lugar, com US$ 9,1 bilhões. No entanto, lembra Nikolaus Lang, sócio do BCG, a maior parte dos componentes exportados pelo Brasil segue para países vizinhos - do Mercosul. "O que não significa, uma vocação de fornecimento global tão forte como a da China", destaca o executivo.

Na Índia, as vendas externas de peças alcançaram US$ 3 bilhões e na Rússia, US$ 1,7 bilhão. (MO)