Título: Encontro de Serra com PMDB gaúcho causa mal-estar
Autor: Felício, César
Fonte: Valor Econômico, 21/05/2010, Política, p. A6
Um almoço do pré-candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra, com sete dos nove deputados do PMDB na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, ontem, acabou se transformando em fonte de constrangimento para os dois partidos. O encontro atropelou os líderes das siglas, que foram pegos de surpresa e não esconderam o mal-estar com a forma como a articulação foi conduzida ainda na noite de quarta-feira. Nem a governadora tucana, Yeda Crusius, havia sido informada sobre a reunião.
A saia justa entre tucanos e pemedebistas em Porto Alegre aconteceu dois dias depois que a executiva nacional do PMDB indicou Michel Temer (SP) para vice na chapa da pré-candidata do PT, Dilma Rousseff, e pediu aos diretórios estaduais que não apoiam a petista para que pelo menos não façam campanha para o tucano.
Um dos mais irritados era o presidente estadual do PMDB, senador Pedro Simon. Segundo ele, "o Terra está exagerando" e teria sido "mais elegante" se tivesse lhe informado das tratativas para a reunião. Ele se referia ao deputado federal gaúcho Osmar Terra, amigo e apoiador de Serra de longa data e um dos organizadores do encontro de ontem.
Na opinião do senador, o deputado está querendo levar o partido no Estado para o lado de Serra "na marra". Simon lembrou que vai apresentar uma moção defendendo a candidatura própria na convenção nacional de 12 de junho e se a tese for derrotada o diretório estadual ainda tem que decidir para que lado irá. "Se o partido no Rio Grande do Sul tem essa posição, as pessoas têm que respeitar", cobrou.
O presidente estadual do PSDB, deputado federal Cláudio Diaz, também entendeu que o encontro foi "mal conduzido". "Ninguém sabia de nada, nem a Marisa Serrano, nem o Sérgio Guerra (presidente nacional do partido)", afirmou. De acordo com ele, houve um "erro de comunicação" no processo. "Mas erros estratégicos acontecem", ressalvou.
Para contornar o mal-estar, à tarde os tucanos levaram Serra ao diretório do partido e em seguida à sede do PP, onde o PSDB apresentou formalmente a proposta para coligação no Estado. A oferta inclui a vaga de vice na chapa de Yeda (que vai concorrer à reeleição), uma vaga para o Senado e coligação na eleição para a Câmara dos Deputados. O PP queria também a coligação para a Assembleia, mas deve aprovar a aliança na segunda-feira.
Com a repercussão negativa do encontro entre Serra e os deputados, as explicações para a reunião também acabaram desencontradas. Logo depois do almoço que durou quase duas horas, o tucano abriu uma entrevista coletiva afirmando que havia sido convidado pelo líder da bancada, deputado Gilberto Capoani.
Mas o próprio Capoani disse, depois, que o pré-candidato tucano havia lhe telefonado às 20 horas da noite anterior pedindo para fazer um encontro de "aproximação" com os deputados pemedebistas gaúchos. E, antes disso, ele havia recebido um telefonema de Osmar Terra avisando que o pré-candidato tucano entraria em contato.
"Foi o próprio Serra quem quis", explicou Terra, que também foi um dos cicerones do pré-candidato durante a visita que ele fez ao Estado no início deste mês. Em resposta a Simon, ele afirmou que não está "arrastando ninguém" para o lado do pré-candidato tucano e que Serra será o "candidato natural" do eleitorado do PMDB no Estado se o partido confirmar a aliança com o PT.
"Eu me sinto à vontade para fazer o que eu quero", afirmou Terra. Segundo ele, a executiva nacional do partido indicou Michel Temer para vice de Dilma "sem ouvir nenhum diretório e nenhum deputado" e o próprio Simon já havia, em ocasiões anteriores, manifestado simpatia pela pré-candidata petista.