Título: DEM insiste em Aécio para conter PP na Vice
Autor: Felício, César
Fonte: Valor Econômico, 21/05/2010, Política, p. A6

Para deter as especulações em torno do posto de vice na chapa presidencial do ex-governador de São Paulo José Serra (PSDB), o DEM recolocou a possibilidade do ex-governador de Minas Gerais Aécio Neves (PSDB) compor a chapa como vice, uma hipótese já descartada pelo tucano diversas vezes. Nas últimas semanas, cresceu a articulação para que Serra tenha o senador Francisco Dornelles (PP-RJ), primo de Aécio, como vice, além de outros nomes tucanos começarem a ser citados.

Para a cúpula do DEM, as últimas pesquisas de opinião criaram uma motivação regional para que Aécio reveja a sua decisão : há indícios de que a estratégia de Aécio em ser candidato ao Senado pode não alavancar o crescimento dos demais candidatos da aliança. O governador Antonio Anastasia (PSDB), candidato à reeleição, ainda oscila entre 15% e 20% nas pesquisas de intenção de voto, enquanto seus adversários, o senador Hélio Costa (PMDB) e o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel (PT), que devem se unir em uma chapa única, estão entre 35% e 40%. Anastasia conta com menos da metade das intenções de voto do próprio Serra em Minas Gerais, e com cerca de um quarto do que Aécio teria em uma candidatura ao Senado.

"A possibilidade de Aécio ser vice nunca deixou de existir e agora os aliados mais próximos do governador já fazem a conexão entre o cenário regional e o federal. Constatam que a candidatura dele a Vice pode reforçar a candidatura de Anastasia", afirmou o presidente nacional do DEM, o deputado Rodrigo Maia (RJ). "Ele é o vetor para a eleição de Anastasia e do Serra", disse o deputado Carlos Melles (DEM-MG). Rodrigo Maia afirmou que uma vez posto na mesa o nome de Aécio, o partido suspende conversações sobre qualquer outra hipótese. "A única coisa que existe em minha cabeça para vice é o Aécio e traçar qualquer roteiro alternativo implica em colaborar para a candidatura dele ao Senado que é o que menos quero", disse.

A insistência do DEM em Aécio tende a ser tão forte que o partido aceitaria o lançamento apenas de Serra na convenção nacional tucana agendada para 12 de junho em Salvador. " O PSDB poderia lançar apenas o candidato a presidente e deixar o posto de vice para ser preenchido por delegação da Executiva. Temos até 30 de junho para aguardar", afirmou o deputado José Carlos Aleluia (DEM-BA).

A aposta do DEM é uma forma de contornar a ameaça de impasse dentro da coligação de Serra caso Aécio insista na candidatura ao Senado. Dentro do partido, a possibilidade do lançamento de uma chapa Serra/Dornelles é vista como pouco provável, mas motivo suficiente para romper a aliança com o PSDB. Nesta hipótese, o partido não formalizaria apoio a candidato presidencial nenhum e Serra ficaria sem o tempo no DEM na televisão. A aposta de alguns dirigentes do partido é que este desfecho impediria o partido de crescer no Congresso, mas estaria longe de colocar em risco a sobrevivência da sigla, que conta com fortes candidatos ao governo na Bahia, Sergipe, Tocantins e Rio Grande do Norte.

Caso fracasse a articulação por Aécio, o primeiro movimento do DEM deverá ser o de propor a Serra a escolha do vice entre uma relação de integrantes do partido. Os nomes mais citados são o de Aleluia, o do senador José Agripino Maia (RN) e o da senadora Kátia Abreu (TO), presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA). O receio é que haja resistências a um vice do DEM dentro do PSDB. Um dos lembrados para compor a chapa, Aleluia disse que deve caber a Serra, e não aos partidos, a decisão. "A escolha do vice é do candidato, sempre. Tudo que eu puder fazer para ajudar e não atrapalhar o Serra, eu farei", afirmou o baiano.

Além do empenho da cúpula nacional, a candidatura de Aécio a vice também agrada ao DEM mineiro, que ganharia espaço político: no desenho atual da chapa majoritária mineira, os integrantes do DEM ameaçam ficar de fora: Anastasia é candidato à reeleição, provavelmente com o presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, Alberto Pinto Coelho (PP), como vice. Aécio e o ex-presidente Itamar Franco (PPS) fariam a dupla para o Senado.

Aécio retorna ao Brasil neste fim de semana e, por meio de sua assessoria de imprensa, disse que não há qualquer fato novo que tenha alterado a sua disposição de concorrer ao Senado. O primeiro compromisso público de Aécio deverá ser na reta final da campanha extemporânea para a Prefeitura de Ipatinga, onde apoia o candidato do PPS, Robson Gomes. Provavelmente Aécio participará do encerramento da campanha, no dia 28. Um encontro entre Aécio e Serra com empresários do agronegócio em Uberaba, no dia 31, deve ser desmarcado, sob pretexto de problemas com a agenda de Anastasia.

De acordo com integrantes do PSDB mineiro, contudo, a possibilidade de Aécio lançar-se como vice de Serra é real e dependerá de mais análises de resultados das pesquisas eleitorais. Aécio estaria interessado em estudar qual a forma mais eficaz de dar impulso a Anastasia, já que, segundo este tucano, havia a expectativa de que o atual governador chegasse ao mês das convenções em melhor posição. Também foi surpreendente aos aliados de Aécio o virtual empate registrado na pesquisa do Instituto Vox Populi entre Serra e Dilma em Minas Gerais: o primeiro a pareceu com 39% e a segunda, com 35%.

Entre os aliados mais próximos de Aécio, há pressões nos dois sentidos: parte de seus conselheiros preconizam a Vice de Serra, parte afirma que a entrada na chapa presidencial será inócua. A um de seus interlocutores, Aécio comentou que tomará a decisão de forma solitária.