Título: Sem entusiasmo, China e Rússia apoiam sanções por pressão americana
Autor: Dyer, Geoff; Gorst, Isabel
Fonte: Valor Econômico, 20/05/2010, Internacional, p. A12

de Pequim e Moscou

Diante de um dilema de rápida mutação, nesta semana, quanto às ambições nucleares do Irã, a China e a Rússia parecem estar abraçando simultaneamente "tanto isto quanto aquilo": apoiam uma nova rodada americana de sanções ao Irã, mas também defendem o acordo de troca de combustível negociado com o Brasil e a Turquia. Ao apoiar a minuta de resolução apresentada na terça-feira em defesa de novas sanções, Pequim e Moscou revelaram não desejar se opor abertamente a uma das principais prioridades diplomáticas do governo Obama. Mas os dois países também estão muito empenhados em minimizar os possíveis prejuízos às suas relações com o Irã, enfraquecendo a proposta de sanções para evitar antagonizar o Brasil e a Turquia. O súbito desdobramento inesperado dos eventos surpreendeu muitos analistas. Depois que o Irã anunciou na segunda-feira o resgate do acordo de troca de combustível com o Brasil e a Turquia, era amplamente esperado que a China e a Rússia, de longa data extremamente céticas sobre mais sanções contra o Irã, usariam o acordo como pretexto para prolongar o debate na ONU. Em vez disso, autoridades americanas puderam anunciar na terça que uma minuta de resolução teve o apoio de Pequim e Moscou. Enquanto os EUA estão tentando aumentar a pressão sobre o Irã, a China é mais conciliadora. "Acreditamos que a adoção da minuta de resolução representa uma oportunidade. É nossa esperança que todas as partes interessadas possam aproveitar a oportunidade de trabalhar em prol de uma solução adequada por via diplomática", disse Li Baodong, embaixador da China na ONU. O acordo prevendo a troca de combustível, acrescentou ele, foi "um passo positivo na direção correta". A Rússia, que defendeu o Irã contra as acusações dos Estados Unidos de que estaria desenvolvendo uma bomba atômica, pareceu conformada com a perspectiva de novas sanções. Dmitri Medvedev, o presidente russo, saudou o acordo de troca de combustível, mas disse que isso não impediria o Irã de enriquecer urânio. Medvedev defendeu "consultas urgentes com todas as partes interessadas, inclusive o Irã, para decidir o que devemos fazer em seguida". Falando em Washington após reunião no Pentágono na terça-feira, Serguei Ivanov, o vice-primeiro-ministro russo, disse que "não ficaria surpreso" se a ONU aprovasse em breve uma resolução com novas sanções contra o Irã. Mas ele advertiu que a Rússia estava traçando uma "delimitação", insistindo que as sanções não seriam "asfixiantes" nem deveriam afetar os iranianos comuns. Com a aprovação de sanções, a Rússia tem muito mais a perder do que os EUA, que não tem interesse econômico no Irã. "Temos uma posição completamente distinta. Temos uma relação comercial e potencial para desenvolvê-la. Temos interesses energéticos, interesses humanos e turísticos", disse Ivanov. Em última instância, meses de pressão dos EUA parecem ter produzido resultados. "Meu palpite é que os interesses da China de não perturbar sua relação com os EUA são mais importantes do que a perspectiva de causar algum tipo de prejuízo às suas relações com o Irã", disse Willem van Kemenade, pesquisador do Instituto de Relações Internacionais da Holanda. Alexei Malashenko, especialista em geopolítica no Carnegie Moscow Center, disse que a aprovação de sanções da ONU contra o Irã implicaria "sacrifícios dolorosos" para a Rússia, que seriam apenas parcialmente compensados pela perspectiva de melhorar as relações com os EUA. "Como de costume, a Rússia está jogando um grande jogo", disse ele. "A Rússia quer duas coisas [conflitantes], ficar ao lado dos EUA e manter sua acalentada posição independente como mediadora no Irã e no Oriente Médio."