Título: Empresas temem que falta de dólar se agrave na Venezuela
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 20/05/2010, Internacional, p. A13

De São Paulo

O governo da Venezuela deu início a uma onda de intervenções no mercado financeiro usando nova lei de crimes cambiais aprovada no fim de semana. Analistas dizem que o aperto que o governo está promovendo na venda do dólar paralelo trará ainda mais incerteza para as grandes empresas e pode afugentar investimentos delas no país. Segundo a BMO Capital Markets, as companhias americanas na Venezuela, entre elas Colgate e Avon, enfrentarão grandes incertezas por causa do eventual aumento da escassez de dólares para importação e remessas. Atualmente, cerca de 30% das importações e 70% das remessas de capital para o exterior dependem do dólar paralelo. Nas últimas semanas a moeda americana registrou uma alta de 10% no mercado paralelo em relação bolívar forte, ultrapassando a cotação de 8 bolívares por dólar. Na cotação oficial, a moeda venezuelana está fixa em 4,30 bolívares por dólar. Para Connie Maneaty, analista da BMO Capital, as empresas que calcularam seus lucros usando a cotação do paralelo devem ser menos afetadas. Em um relatório a clientes, ela cita a Colgate como uma das principais empresas em risco, por causa de sua dependência em relação à importação de insumos. Analistas venezuelanos dizem que essa incerteza afugentará investimentos e causará danos à economia do país. Desde a aprovação da lei de crimes cambiais, no fim de semana, o governo venezuelano vem mostrando disposição de intervir pesadamente no mercado financeiro. Ontem, a Comissão Nacional de Valores (equivalente à CVM no país) anunciou que mantém intervenção em 31 das 107 corretoras venezuelanas. Segundo dados oficiais, há 63 corretoras de câmbio no país e 44 corretoras de valores. De novembro a janeiro, houve intervenção de 7 corretoras de câmbio e de valores por terem mantido algum tipo de operação com os 11 bancos fechados no fim de 2009. As acusações são de envolvimento em atividades especulativas com a venda de moedas estrangeiras e em lavagem de dinheiro, além de problemas administrativos, disse o diretor da Comissão de Valores, Tomás Sánchez. Além das intervenções, as corretoras serão proibidas de vender títulos da dívida pública e títulos denominados em dólar, além de serem submetidas a limites para a venda de moedas estrangeiras. Alguns analistas dizem que essas restrições levarão muitas corretoras a ter de fechar as portas. Uma das principais operações financeiras dessas corretoras era o mútuo, no qual as corretoras compravam e vendiam títulos da dívida pública e os usavam como garantia para a compra de dólares no mercado paralelo. O presidente Hugo Chávez acusou diretamente as casas de câmbio de realizar "operações especulativas" para pressionar a alta do dólar paralelo. Ele disse que não titubearia em fechar todas as corretoras do país em sua ofensiva contra a especulação. "Farão falta as casas de câmbio? Quem aqui do povo precisa delas? Não, não fazem falta. Os ricos inventaram um sistema para conduzir os recursos do povo, os recursos do Estado, os recursos do país", afirmou Chávez.