Título: Crise na UE já afeta setor de energia renovável
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Fonte: Valor Econômico, 20/05/2010, Internacional, p. A13
A crise europeia dá sinais de estar afetando particularmente um setor da economia: o das empresas de energia renovável. Poucas companhias de energia solar, eólica e de outras gerações verdes seriam lucrativas sem os subsídios que recebem. E, numa hora em que governos em toda o continente estão cortando gastos como resposta à crise grega, esses subsídios vão sendo cortados. "A incerteza na Europa é mais um peso num mercado que já é tão desafiador", disse Kathleen McGinty, que foi assessora do governo Bill Clinton e que hoje é sócia da Element Partners, uma empresa de private equity que administra US$ 800 milhões em investimentos em energia limpa. A ajuda às empresas de energia limpa, paga pelos consumidores em suas contas de eletricidade, vem sendo cortada pelos governos na tentativa de baixar os custos para as empresas, num momento em que procuram incentivar a atividade econômica. No início do mês, deputados alemães reduziram em 16% os subsídios para novas fábricas de painéis de energia solar. A indústria de energia solar da Itália estimam que os subsídios para novos geradores sejam diminuídos em até um quarto em junho. Na Espanha, o governo está oferecendo subsídios até 30% menores para novas fábricas de painéis solares. Estima-se que os subsídios para as fábricas já existentes também sejam cortados - elas foram construídas com uma expectativa de garantia de preços por 25 anos. Segundo Vishal Shah, analista do Barclays Capital, "o risco a esses subsídios está cada vez maior" em todo o continente. "Será algo doloroso", afirmou. Para as empresas de fora da Europa, a situação se torna pior por causa do declínio do valor do euro. Os lucros para as companhias americanas de energia limpa que vendem seus produtos para a Europa caíram 14% só neste ano. Segundo o Barclays, a Canadian Solar, uma empresa de painéis solares baseada em Ontário, pode ter uma queda de 84% em seus lucros se o euro ficar em média US$ 1,25 neste ano. As empresas de painéis solares da China também estão sofrendo com a situação. "A queda do euro tem sido algo muito duro de gerenciar", disse Jerry Stokes, vice-presidente da chinesa Suntech. "O que nos ajuda um pouco é que temos fornecedores na Europa, e assim parte dos custos cai." Os investimentos na Europa também devem ser afetados. Possíveis cortes nos preços da energia renovável "podem fazer com que posterguemos nossos planos na Espanha e levemos a produção para outros países, como China e EUA", disse Luis Blanco, diretor da Gamesa, empresa de geração de energia eólica em alto mar. Por outro lado, a American Superconductor, fabricante de componentes de turbinas eólicas está contratando gente para seu instituto de pesquisa em Klagenfurt, Áustria. Sua margem cresceu 1,5 ponto percentual no primeiro trimestre depois que ela trocou seus contratos em euro para yuan em 2009. Cerca de metade de seus custos é em euro e a maior parte de suas vendas ocorre na China. Com o declínio do euro, as operações na Europa ficaram mais baratas. A incerteza sobre o futuro dos subsídios está tornando mais difícil conseguir financiamento para as companhias de energia renovável. A Renovalia Energy e o grupo T-Solar Global, empresas espanholas que tinham a pretensão de se expandir no exterior, suspenderam as ofertas públicas de ações que, juntas, esperavam levantar mais de ¿ 430 milhões. A Solar Opportunities, empresa de investimentos de Madri, suspendeu a compra de uma empresa de energia solar do norte do país, num valor de ¿ 130 milhões, até que o governo torne mais claro como ficarão os subsídios.