Título: Pastore defende aumento da poupança doméstica
Autor: Otoni , Luciana
Fonte: Valor Econômico, 18/05/2010, Brasil, p. A2
A austeridade fiscal como forma de retirar o Brasil do persistente dilema do baixo crescimento econômico estará, novamente, no centro do debate macroconômico previsto para a manhã de hoje no primeiro painel do 22ºº Fórum Nacional. Um trabalho preparado para o evento pelos economistas Affonso Celso Pastore (ex-presidente do Banco Central), Maria Cristina Pinotti e Terence de Almeida Pagano conclui que, sem o aumento da poupança doméstica pela via da política fiscal, o Brasil seguirá dependendo da poupança externa para financiar investimentos.
O problema, argumentam, é que a atração de poupança externa, por meio de déficits em conta corrente -como os que se acumulam atualmente- , desencadeia mecanismos que geram remessas de recursos para o exterior e a consequente desvalorização cambial. A desvalorização, por sua vez, limita a absorção de poupança externa (a desvalorização do câmbio reduz importações, amplia exportações e gera superávits em conta corrente), impedindo que ela continue financiando o crescimento.
"A forma de superar esse gargalo são políticas que elevem a poupança doméstica. Elas depreciarão o câmbio real, estimulando investimentos em produtos exportáveis, e permitirão maiores investimentos com menores déficits em conta corrente. Mas isso requer políticas fiscais diferentes das atualmente em implementação", diz o trabalho. Os autores afirmam que, "apesar de todas as melhorias na política macroeconômica, o Brasil continua enfrentando limites estreitos para o crescimento econômico". Segundo eles, para o PIB brasileiro crescer de 5,5% a 6% ao ano por um longo período é necessário taxa de investimento sempre superior a 25%. Desde a estabilização macroeconômica, em 1994, o melhor que o Brasil conseguiu foi 19% do PIB, em 1995 e 2008.
Embora justifiquem intervenções no mercado de câmbio flutuante, dadas as oscilações dos fluxos de capitais, os autores desaconselham ações de controle de capital, pela baixa eficácia, ou intervenções mais ousadas, pelo risco de desestabilização.