Título: Dilma nega apoio a aumento de gastos
Autor: Grabois , Ana Paula
Fonte: Valor Econômico, 18/05/2010, Política, p. A7

Entrevistada pela rádio CBN, a pré-candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, manteve mais controle durante as perguntas da jornalista Miriam Leitão do que seu principal adversário, José Serra (PSDB), o fez na semana passada.

Na parte mais polêmica da entrevista, Dilma negou ter sido contra a ideia de déficit nominal zero e de ter apoiado aumento dos gastos públicos, em resposta à jornalista. "Desculpa, Miriam, você está falando uma coisa que não é correta. O momento que nós fizemos o maior superávit primário, tão grande que nós pudemos constituir o fundo soberano foi em 2008. Você está equivocada no que se refere a números", disse Dilma. Segundo a pré-candidata, a dívida bruta aumentou devido à alta das reservas internacionais para US$ 250 bilhões, à liberação de R$ 100 bilhões de empréstimos compulsórios pelo Banco Central e à transferência de recursos do Tesouro para o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) emprestar mais e sustentar o investimento das empresas durante a crise financeira mundial.

Dilma negou que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenha praticado aparelhamento partidário de cargos públicos. "Não concordo, não acredito que tenha (aparelhamento)", afirmou. Citou o embaixador Ronaldo Sardenberg, atual presidente da Anatel, como um dirigente sem nenhuma ligação com o PT.

Na avaliação de Dilma, as agências reguladoras, alvos de críticas de aparelhamento partidário, possuem critérios técnicos de escolha de quadros mesmo que os nomes saiam de partidos da base aliada. "Não acredito que o fato de um partido político indicar integrantes para uma agência significa necessariamente que a pessoa é incapaz ou não preenche requisitos técnicos. O que não é possível aceitar é que as indicações não sejam qualificadas", afirmou. Sobre o papel das agências, disse que não podem substituir o planejamento dos ministérios, mas são importantes para corrigir "falhas de mercado", como a formação de cartéis ou de monopólio sobre um segmento econômico.

Em relação à Previdência, defendeu ajustes de acordo com o aumento do envelhecimento da população e se colocou contrária a uma ampla reforma. "A experiência mostra que é melhor fazer ajustes tópicos, sistemáticos, e não uma grande reforma". Defendeu ainda mais recursos para a saúde, mas não deixou claro se o aumento do gasto para o setor seria acompanhado por elevação da carga tributária. A ex-ministra da Casa Civil disse que não seria a volta da CPMF, mas defendeu a garantia de recursos para o setor. "Você não tira R$ 40 bilhões da saúde e fica por isso mesmo. Não é possível a gente ter uma visão tão sem compromisso como essa. O Brasil precisa completar a cadeia do SUS", afirmou. Segundo a pré-candidata do PT, "é impossível ter melhoria na saúde no Brasil se não tiver recomposição das fontes de financiamento", que pode passar pela redistribuição ou aumento das receitas. Ao ser questionada se aumentaria a carga tributária da economia, afirmou que tentaria aumentar os gastos do setor sem subir impostos. "Não sei se é possível", disse.

Dilma não quis emitir opinião sobre a redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais, pleito das centrais sindicais, que hoje apoiam a sua pré-candidatura, pois, segundo ela, é uma questão para ser negociada entre trabalhadores e empresários e "não é matéria governamental".

Em gravação no "Programa do Ratinho", no canal de TV SBT, a pré-candidata do PT a presidente disse que não pode "subir em salto alto" por conta de pesquisas que mostraram empate técnico com o pré-candidato do PSDB. José Serra. "Eu considero importante ter saído de uma posição bem modesta lá trás e hoje estar num nível significativo", afirmou. (Com agências noticiosas)