Título: Venezuela estuda ampliar intervenção financeira
Autor: Uchoa , Rodrigo
Fonte: Valor Econômico, 18/05/2010, Internacional, p. A11

A economia da Venezuela passa por um período de incerteza mais grave do que o usual após a adoção de medidas de repressão ao mercado paralelo de dólar e uma nova onda de expropriações levadas a cabo pelo governo. Empresários esperam medidas de restrição comercial extras ainda nesta semana - provavelmente mais expropriações e intervenção parcial no sistema bancário.

O presidente Hugo Chávez sancionou uma lei que dá ao Banco Central poder para dizer quanto cada corretora pode vender de dólares, incluindo os títulos denominados na moeda americana. A legislação prevê ainda multas e penas de até seis anos de prisão para quem comprar ou vender mais de US$ 20 mil por ano.

Chávez diz que especuladores do câmbio são responsáveis pela inflação - uma das mais altas do mundo, devendo ultrapassar 30% neste ano. E pediu aos venezuelanos que denunciassem pelo Twitter a venda ilegal de dólares.

Cerca de 30% das importações no país são feitas por empresários que recorreram ao dólar paralelo, já que há escassez de oferta oficial da moeda americana. Alguns setores podem ter de suspender parte da produção por falta de insumos. E os importadores dizem que o alto preço que são obrigados a pagar pelo dólar paralelo acaba se refletindo nos preços finais dos produtos.

Para o empresário Alfonso Rivas, "não sabemos ainda como vamos fazer se faltar dólares. Nossa produção depende muito de insumos importados".

Gente do mercado diz que as próximas medidas do governo podem incluir intervenção nas áreas de crédito dos bancos privados. O presidente Chávez reclamou no fim de semana que as instituições privadas não estão concedendo créditos, apesar de terem dinheiro em caixa.

Outra possibilidade cogitada pelo analistas venezuelanos é a de o governo aumentar as expropriações de empresas alimentícias sob a alegação de que elas estariam especulando com seus estoques.

A mais recente expropriação do setor foi a Monaca (Molinos Nacionales), de capital mexicano. O presidente disse que a estatização da produtora de farináceos vai garantir o fornecimento do produto a preços mais baixos do que os antes praticados.

Desde 2003, Chávez mantém um forte controle sobre o valor da moeda americana. A cotação oficial é de 4,30 bolívares forte por dólar desde janeiro - com uma cotação especial de 2,60 para a compra de produtos essenciais.

Na semana passada, quando o dólar paralelo ultrapassou 8 bolívares fortes - patamar em que ainda flutua- , o Valor pediu a uma consultoria de Caracas uma evolução da cotação. A consultoria disse que forneceria os dados contanto que seu nome não fosse divulgado, por temer retaliações.

O temor da consultoria não era infundado. Um trader foi preso no fim de semana e sites que publicam a cotação do paralelo foram fechados. Funcionários de corretoras em Caracas dizem estar sob pressão, já que o governo ameaça fechar as empresas.