Título: Crise na Europa não deve atingir o Brasil, diz prêmio Nobel
Autor: Pitthan, Júlia
Fonte: Valor Econômico, 20/05/2010, Especial, p. A16

de Joinville

O Brasil e os demais países integrantes do Bric (China, Índia e Rússia), dificilmente serão afetados pela crise que atinge a Grécia e outros países europeus. A avaliação é do economista Edward Prescott, ganhador do prêmio Nobel de Economia em 2004. "O Brasil tem se saído bem ao longo da década. A razão é a mudança para um melhor sistema político. O "smart money " está apostando no Brasil. Não há uma expectativa de uma mudança para um cenário político pior. Geralmente, mas não sempre, os investimentos de "smart" money estão certos", disse Prescott, em entrevista ao Valor, por e-mail. Atualmente, ele é professor da Universidade do Estado do Arizona, nos EUA. O economista dá crédito para o presidente Luiz Inácio Lula e Silva, mas pondera: "Em resumo, é o povo brasileiro que merece o crédito quando o país vai bem e é culpado, quando vai mal". Sobre a crise europeia, Prescott, que amanhã fará palestra sobre "O novo ciclo econômico mundial pós-crise", durante o evento Expogestão, em Joinville, considera que a União Europeia fez o que precisava fazer. "Eu espero, e tenho esperança, que a União Europeia insista para que a Grécia faça as reformas fiscais necessárias." Para ele, a crise grega é um alerta para que um número maior de países faça reforma fiscal. "Estados responsáveis dos Estados Unidos, como Texas, Indiana e Dakota do Sul e do Norte s reduziram as taxas e os gastos da máquina pública e estão crescendo. Por outro lado, Estados irresponsáveis, como Califórnia e Nova York, estão com os mesmos problemas de Grécia, Portugal e Espanha. Li recentemente que a Espanha planeja restabelecer a sua saúde financeira cortando gastos. Se a Espanha fizer isso, vai crescer de novo", prevê. Prescott não tem medo de dizer que a crise econômica desencadeada em 2008 foi superestimada como um problema. Em maio de 2009, sustentava que os transtornos enfrentados pelo mercado financeiro não iriam atingir a economia real. Passados 20 meses da quebra do Lehman Brothers, o economista mantém a posição. "Os principais problemas econômicos dos EUA e da União Europeia foram gerados por maus regimes políticos e falta de reformas necessárias.". Com essa avaliação da crise, Prescott resume, em parte, a teoria que lhe garantiu o prêmio Nobel em 2004. Em parceria com economista norueguês Finn Kydland, o professor sustentou, em um dos trabalhos publicados na década de 70, que políticas monetárias duradouras tendem a fortalecer e estabilizar os sistemas econômicos. Sob esta visão, Prescott assegura que os governos tendem a agravar os problemas quando se dispõem a socorrer economias em crise. Ele foi um dos maiores críticos do pacote de salvamento da economia americana, elaborado pelo governo do presidente Barack Obama. Como receita para a recuperação econômica, Prescott defende a reforma fiscal, com redução de taxas, e a concentração do sistema financeiro de forma integral na mão de bancos privados. "Com essa reforma não há risco sistêmico", diz.