Título: Dubiedades do PSDB
Autor: Corrêa, Maurício
Fonte: Correio Braziliense, 04/07/2010, Opinião, p. 19

Advogado

Um erro em política pode ser fatal. Muitos erros podem ser ainda mais fatais. É essa a sina peessedebista. O comando tucano no estado de São Paulo vetou o nome de Aécio Neves para disputar a Presidência da República. Invocou dificuldades que se contraporiam à pretensão. A maior delas, como resultou evidente, situa-se no controle por ele exercido sobre a direção nacional partidária. A realização das prévias pelos diretórios estaduais para saber quem seria escolhido candidato tornou-se inviável. A democracia que dá nome ao partido foi substituída pela vontade de poucos da cúpula dominante. Procrastinaram tanto a decisão sobre elas a ponto de o governador mineiro desistir do projeto. Preferiu a boa convivência da sigla a causar dissidências no seu seio. Uma embaixada de tucanos foi escalada para tentar cooptá-lo a aceitar a candidatura de vice numa chapa puro-sangue. Queriam os votos dos mineiros, mas não queriam o candidato de Minas. A missão fracassou. Aécio rejeitou o convite e preferiu concorrer a uma das vagas do estado no Senado Federal.

É atávico no partido o gene da indecisão. Diante de circunstâncias que exigem pronta solução, não sabem como agir. Prolongam, procrastinam, postergam o que precisa ser logo decidido. Quando decidem, já não há mais como evitar os prejuízos gerados. Embora se soubesse que o ex-governador paulista fosse o titular da candidatura presidencial, foi uma novela desencantar-se para assumi-la. Foi necessário primeiramente que a candidata petista o acicatasse com ascensão nas pesquisas para que, posteriormente, se desentocasse. Idêntica perplexidade deu-se com algumas das candidaturas a governador de estado que aguardavam sinal verde para definição. A hesitação se responsabilizou pelo naufrágio de promissoras alianças. Assim que houve liberação para fazê-las, o tempo havia passado, já que concertadas com outros partidos.

Nada mais ilustrativo para expor o quadro de dúvidas que orienta os rumos tucanos do que a escolha da candidatura a vice do ex-governador paulista. Antes, perderam-se na ilusória busca da aceitação de Aécio. Todos sabiam que não iria dar certo. Só eles teimaram na insistente caturrice, até que a luz vermelha se acendeu, alertando com sinal de perigo à vista. Depois, partiram em busca de alguém que pudesse cumprir o encargo. Enquanto isso, no outro flanco da batalha, o vice da candidata petista já estava devidamente definido. À procura de um nome de porto em porto para suprir a lacuna, fixaram-se finalmente no do líder tucano no Senado. O feito se consumou quando o combustível do veículo estava prestes a se esgotar. Enfim, disseram, heureca.

Como a pressa ¿ aqui, contraditoriamente, é pressa mesmo ¿ é inimiga da perfeição, esqueceu-se o grupo de dirigentes peessedebista de consultar o mais leal dos aliados, o DEM, que se sublevou contra a escolha. Tudo voltou novamente à estaca zero. Antes que a procela desabasse sobre eles, trataram de arquivar o nome do vice pinçado da liderança do Senado e anuíssem, vencidos, com a indicação unilateral do Democratas. Assim é que, imposto pelo partido, fizeram do deputado federal Índio da Costa o candidato à Vice-Presidência da República, pela coligação chefiada pelos tucanos. O acerto se ultimou, para utilizar expressão em voga no jargão futebolístico, no último minuto do segundo tempo da prorrogação. A essa altura, os efeitos da tardia decisão tinham se alastrado pelo país afora, contabilizando inestimáveis prejuízos à pachorrenta candidatura tucana à Presidência da República.

Vale citar, como exemplo paradigmático da perplexidade tucana, fatos ocorridos na capital da República. O partido queria lançar candidato próprio a governador do DF. Passou a ser questão fechada. O presidente do diretório se encontrava licenciado. Como ex-secretário de Obras do governo Arruda, foi citado no Inquérito 650, no Superior Tribunal de Justiça. Acharam melhor que se afastasse das funções. Substituído pelo vice, este, em seguida a alguns meses, acabou por renunciar. Não concordou com as pressões que vinham de cima, que, ao contrário de sua posição, eram no sentido de que a agremiação não apresentasse candidatura própria ao governo da capital. Houve entendimentos com o presidente licenciado para que retornasse às funções. Como prêmio pela obediência, ganharia, como ganhou, a suplência da candidata do partido ao Senado. Em virtude de o candidato do PSC possuir pendências na Justiça e não gozar de bom trânsito perante o eleitorado esclarecido, postergaram a coligação.

A hesitação da direção nacional partidária durante meses pendulou entre ter candidato próprio em Brasília ou aliar-se ao PSC. Quando estava tudo acertado para se fazer a coligação pretendida, sobreveio interpretação do Tribunal Superior Eleitoral de que as normas da Lei Complementar nª135/2010 se aplicam às eleições de outubro próximo. Havendo o candidato do PSC renunciado ao cargo de senador, eleito no último pleito, não pode mais ser candidato. Entre a cruz e a caldeirinha, somente uma semana antes do prazo fatal das convenções, é que veio ordem para que o diretório de Brasília aderisse à controvertida candidatura.

Agora é esperar que, caso seja eleito o candidato tucano, possa o país sair da letargia em que se acha e faça progredir o desenvolvimento nacional.