Título: Alemanha mina confiança do investidor
Autor: Barber, Tony; Hall, Ben
Fonte: Valor Econômico, 20/05/2010, Finanças, p. C5

Financial Times

Renovada turbulência varreu os mercados financeiros ontem depois que a proibição da Alemanha de venda a descoberto de determinados títulos (sem providenciar sua inclusão em carteira) impactou duramente a já frágil confiança dos investidores e desencadeou uma série de boatos cada vez mais alarmantes. Traders disseram que a decisão alemã ressaltou as preocupações sobre a unidade da zona do euro. "Com toda a incerteza que já assola a área do euro de uma perspectiva de endividamento e monetária, essa decisão unilateral tomada pela maior contribuinte econômica desencadeia mais temores", comentou Dan Cook, analista sênior da IG Markets. A visão generalizada do mercado é de que a decisão foi política. "O momento da implementação da decisão é significativo, pois acontece pouco antes de o Parlamento alemão iniciar o debate sobre um projeto de lei que visa autorizar a contribuição alemã de ¿ 123 bilhões para o fundo de socorro emergencial de ¿ 440 bilhões a países endividados na periferia europeia", disse Ulrich Leuchtmann, estrategista para mercados de câmbio do Commerzbank. "Os mercados logo chegaram à conclusão de que se tratava de um ato de desespero e que a crise da dívida na Europa poderá piorar ainda mais. O recente aprofundamento da crise da dívida não se deve aos especuladores, mas à prudência muito racional de investidores e bancos." Divyang Shah, estrategista da IFR Markets, disse: "A sociedade continua irritada por ter de arcar com o ônus do socorro ao sistema bancário e, agora, com o socorro a outros membros da zona euro - e a mensagem importante é que a elite política não pode mais cruzar os braços e ignorar essa raiva." "Dado que o sistema financeiro permanece em condição frágil, o perigo é que se surgir outro momento do tipo 'grande demais para permitir um colapso', então a opinião pública estará menos inclinada a mostrar-se favorável a novas ações de socorro." A decisão, revelada na noite de terça-feira pela Bafin, agência reguladora para o financeiro alemão, foi fortemente sentida nos mercados de câmbio, quando o euro caiu a um novo mínimo em quatro anos contra o dólar, para US$ 1,2146 ao longo do dia. "A ação da Bafin faz da venda de euros a descoberto cada vez mais o caminho principal para apostar contra a região", disse Andrew Lim em Matrix. "Estamos sentindo que, a cada dia, o mercado está antecipando uma probabilidade maior de que o euro como moedas única terá de ser, de alguma forma, fragmentado." Com efeito, o euro voltou a subir para mais de US$ 1,23, enquanto os mercados eram varridos por um turbilhão de rumores sobre ações oficiais de suporte à moeda - comentando-se, inclusive, que a Grécia estaria pensando em abandonar a União Europeia. Isso foi veementemente negado pelas autoridades gregas. Circularam, também, rumores de que o Banco Central Europeu (BCE) pode estar se preparando para intervir e emprestar sustentação ao euro, especialmente depois que uma forte queda do franco suíço em relação ao euro gerou rumores de uma intervenção do Banco Nacional da Suíça. Alan Ruskin, do RBS, comentou: "Depois da errática medida alemã, ontem, uma intervenção no câmbio euro/dólar seria mais um sinal de que as autoridades estão dispostas a disparar contra qualquer coisa que se mova, antes de fazer perguntas."