Título: O euro está em perigo, diz Angela Merkel
Autor: Barber, Tony; Hall, Ben
Fonte: Valor Econômico, 20/05/2010, Finanças, p. C5

Os líderes da Europa sofreram para restabelecer a unidade diante da crise da dívida soberana depois que a Alemanha consternou seus aliados com uma proibição unilateral sobre vendas a descoberto. A proibição, introduzida sem nenhum aviso aos demais países europeus, derrubou os mercados acionários globais e fez o euro despencar a outro nível mais baixo em quatro anos ante o dólar. No fim do dia, o euro teve pequena recuperação. Uma obstinada Angela Merkel, a premiê alemã, disse ao Parlamento em Berlim que a crise da região do euro é a maior da União Europeia (UE) desde o Tratado de Roma de 1957. "Esta é uma questão de sobrevivência", ela disse. "O euro está em perigo. Se o euro fracassar, a Europa fracassará. Se obtivermos êxito, a Europa ficará mais forte." Mas autoridades em Bruxelas, Paris e outras capitais da UE não fizeram grandes esforços para disfarçar sua surpresa e irritação pela iniciativa alemã contra a prática da venda a descoberto, ou seja, vender títulos mobiliários como ações e bônus que não pertencem aos vendedores ou que são emprestados. A maioria avaliou que a medida teria sido motivada por pressão política interna. A proibição se refere aos dez papéis mais importantes da Alemanha, bônus soberanos da zona do euro e swaps de crédito (um tipo de seguro) baseados nesses bônus. Ele impede que operadores vendam esses bônus se anteriormente não os tenham tomado emprestado ou tomado providências para tomá-los emprestado. A França foi particularmente crítica. Christine Lagarde, a ministra das Finanças, afirmou que Berlim deveria ter conversado primeiro com os outros governos. A ação alemã reduziu a liquidez nos mercados de dívida, particularmente para países com graves problemas fiscais, disse Christine. O ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, porém, disse ao "Financial Times" que Berlim pressionará por freios mais rígidos. "Estou convencido de que os mercados já estão realmente fora de controle", ele disse. "Isso explica por que precisamos realmente de regulamentação efetiva." Os ministros das Finanças se encontram hoje em Bruxelas para tentar chegar a um acordo sobre formas de estabilizar a região do euro de 16 países e reformar sua governança econômica. Michel Barnier, comissário da UE para Mercado Interno, disse: "É importante que os países membros atuem em conjunto e que nós projetemos um regime europeu para evitar arbitragem reguladora e fragmentação, tanto dentro da UE como globalmente. O índice pan-europeu FTSE Eurofirst 300 das principais ações europeias fechou em baixa de 2,9%. Os papéis do setor financeiro caíram, com o Deutsche Bank registrando perda de 2,9%. O euro despencou, atingindo seu nível mais baixo em quatro anos, de US$ 1,214 em relação ao dólar nos mercados asiáticos.