Título: Figueiredo vê sinais de arrefecimento do pânico
Autor: Bolle, Mônica Baumgarten de
Fonte: Valor Econômico, 24/05/2010, Finanças, p. C8

O pânico que dominou os mercados ao longo da semana passada abrandou na sexta-feira diante de sinais de maior coordenação entre os países da zona do euro e de adoção de medidas concretas para combater a origem da crise, os gigantescos déficits fiscais dos governos. Essa é a percepção de Luiz Fernando Figueiredo, diretor da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) e ex-diretor de política monetária do Banco Central. "Ontem (quinta) o mercado estava em pânico, hoje está com medo", disse Figueiredo na sexta à noite, ao encerrar uma semana de grande apreensão para os investidores. "Aquele medo de desintegração da União Europeia e de falta de medidas fiscais efetivas está arrefecendo", comentou.

Figueiredo acha precipitado, entretanto, fazer prognósticos do gênero "o pior já passou". "O que se pode dizer é que reduziu o número de incertezas no ar."

Entre os sinais mais positivos emitidos pela Europa no fim da semana, ele cita a aprovação de mais medidas de corte de gastos na Espanha na quinta-feira, desta vez mais profundos; a aprovação do pacote de socorro financeiro à Grécia pelo parlamento alemão também na quinta e o resultado da reunião de ministros das Finanças da União Europeia na sexta, no sentido de implementar medidas de longo prazo de gerenciamento das finanças públicas e de política econômica. Adicionalmente, Figueiredo considera que a aprovação da regulação financeira no Senado americano tirou outra incerteza do radar, embora seja dura com os bancos. "Também vimos sinais de que a China pode abrandar as medidas de aperto monetário", disse ele. Apesar disso tudo, Figueiredo ressalta que "o ambiente ainda é frágil".

O ex-diretor do BC acredita que o Banco Central brasileiro não deve mudar o rumo do aperto monetário na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), no início de junho. Para ele, ainda será muito cedo para avaliar se a crise se dissipará ou não rapidamente e se, por fim, afetará a economia real (na hipótese de perdurar por longo período). Figueiredo aposta numa elevação da taxa Selic de 0,75 ponto.

Ele avalia que o Brasil, de qualquer forma, está numa posição muito menos vulnerável a um agravamento da crise do que estava em 2008. Entre as razões que isolam o país, ele cita que não existem grandes posições em derivativos que apostam na queda do dólar e que os bancos menores estão em posição menos frágil em termos de capitalização do que lá atrás.