Título: Países adotam incentivos para retorno voluntário
Autor: Faleiros, Gustavo; Máximo, Luciano
Fonte: Valor Econômico, 24/05/2010, Especial, p. A14

Nocauteados pela atual recessão econômica e preocupados com o aumento do desemprego, os países do Hemisfério Norte avançam na adoção de políticas de incentivo ao retorno voluntário de imigrantes. Em meio aos efeitos da crise do subprime, em 2008, Japão, Espanha, República Tcheca e Irlanda adotaram o esquema "pay to go", enquanto os governos dos EUA, Reino Unido e Europa discutem leis imigratórias mais duras. Uma das bandeiras de campanha do recém-empossado primeiro-ministro britânico, David Cameron, foi "Jobs for Brits", uma alusão ao fato de que parte da população entende que imigrantes "roubam" vagas no mercado de trabalho de nativos.

O assunto é polêmico. Líderes de países em desenvolvimento veem a iniciativa como uma forma de estabelecer sanções. Especialistas em migração questionam a funcionalidade desse tipo de política. "O programa na Espanha, lançado em 2008, previa atender 100 mil estrangeiros desempregados com incentivo financeiro, mas até agora menos de 10 mil assinaram. Na maioria dos casos, essas práticas vêm junto com restrições que dificultam a volta do optante no futuro", comenta Jean-Philippe Chauzy, dirigente da Organização Internacional para Migração. De acordo com o consulado espanhol em São Paulo, 186 brasileiros aceitaram a proposta. Hoje, a população brasileira na Espanha é de 153 mil pessoas.

Para Jorge Martínez Pizarro, do Departamento de Populações da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), a medida será ineficaz enquanto os imigrantes não tiverem melhores opções em seus países de origem. "O estrangeiro não retornará em massa por causa de uma queda econômica. Ele pode percebê-la como passageira, mesmo que isso signifique assumir novas despesas e fazer novos sacrifícios."

Conhecida por exportar brasileiros, principalmente para os EUA, Governador Valadares sabe que muitos de seus cidadãos estão retornando, com ou sem auxílio. Para isso, a cidade investe em programas de qualificação voltados para o imigrante. "São cursos de finanças pessoais, administração de empresas e sobre o mercado de trabalho local", diz a diretora do projeto, Devani Tomaz. (LM)