Título: Investimento atingirá R$ 1,3 tri até 2013
Autor: Ennes, Juliana
Fonte: Valor Econômico, 24/05/2010, Brasil, p. A5

Mesmo com o cenário externo conturbado, e passando pela turbulência das eleições presidenciais, o Brasil poderá registrar investimentos da ordem de R$ 1,324 trilhão entre 2010 e 2013, de acordo com mapeamento de investimentos realizado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). No entanto, o maior entrave que o país enfrentará será o crescimento do déficit em conta corrente.

A elevação do déficit será o preço que o Brasil terá de pagar para crescer acima do restante do mundo, de acordo com o superintendente da área de pesquisa do banco, Ernani Torres. A expectativa é de que o Produto Interno Bruto (PIB) tenha um avanço de 6,2% este ano, após revisão esperada dos dados do ano passado pelo IBGE. Para os três anos seguintes, estima-se avanço do PIB de 5,2% ao ano.

"Crescer mais rápido do que o mundo é um desafio, porque isso naturalmente tende a ampliar o déficit externo. Há esse custo", disse Torres. No entanto, ele não acredita que o déficit em conta corrente vá comprometer o crescimento da economia, a não ser que o mercado internacional considere seu tamanho insustentável. "Esse é um indicador fundamental nos próximos três ou quatro anos. Se ele sair fora da linha, ou a gente o corrige ou o mercado vai obrigar a gente a corrigir."

De qualquer forma, o avanço brasileiro deverá ser sustentado pela demanda interna, assim como na China e na Índia, países que também deverão crescer acima da média mundial. Para o superintendente do BNDES, os emergentes mostram hoje uma capacidade de sustentação de investimento acima dos países avançados talvez inédita. "A situação é instável, está instável e vai continuar instável. Mas nós vamos seguir em frente", previu Torres.

No cenário desenhado pelo banco, a produção industrial dos países ricos deve levar ainda cerca de quatro anos para retornar ao patamar anterior à crise financeira de 2008, em termos de volume produzido. No Brasil, o consumo interno foi considerado fundamental para a sustentação da economia na crise. Na retomada do crescimento, o investimento foi a última variável a se recuperar.

"A estabilização econômica do Brasil, desde a década de 1990, ainda não se completou. Só vai ser finalizada em definitivo quando tivermos um mercado de crédito de longo prazo. Isso vai acontecer, não temos dúvida, mas não é para amanhã", avaliou Torres.

A projeção é de uma recuperação forte da taxa de investimento nos próximos cinco anos. Neste ano ela ainda deverá situar-se em 19% do PIB. Para o banco, se não fosse a crise internacional, o patamar seria de 21% em 2010. No entanto, o indicador só deverá alcançar esse nível em 2013. A previsão é de que a taxa de investimento do país alcance 19,7% do PIB em 2011, salte para 20,4% no ano seguinte e, em 2013, chegue a 21,4% do PIB. Em 2014, as previsões são de que atinja 22,2%.

O impacto da crise foi maior sobre setores da economia brasileira voltados para a exportação. Em agosto de 2008, a expectativa de investimentos da siderurgia, papel e celulose e da mineração, para o período entre 2009 e 2012, era de R$ 145 bilhões, volume reduzido para R$ 82 bilhões em dezembro do mesmo ano. Na última pesquisa, fechada em abril, a expectativa já era investir R$ 122 bilhões entre 2010 e 2013, próximo ao patamar anterior à crise.

Já nos setores voltados para o mercado interno, entre eletroeletrônicos, química e automotivo, houve estabilidade maior. Antes da crise a estimativa de investimentos para quatro anos era de R$ 94 bilhões, que passou para R$ 76 bilhões em dezembro de 2008, e, em abril passado, ficou em R$ 87 bilhões.

O setor petrolífero não foi contabilizado nem como setor exportador, nem como voltado para o mercado doméstico, mas está presente nas projeções de investimento total no período 2010/2013. Segundo o levantamento realizado pelo BNDES, que já inclui o plano de investimentos da Petrobras, há previsão de que a área invista, isoladamente, R$ 340 bilhões entre 2010 e 2013, patamar superior a todos os investimentos em infraestrutura, que devem somar R$ 310 bilhões em quatro anos.