Título: Remessas de "expatriados" diminuem 23%
Autor: Máximo, Luciano
Fonte: Valor Econômico, 25/05/2010, Brasil, p. A4

de São Paulo

A crise internacional que provocou o retorno de 400 mil brasileiros que viviam e trabalhavam no exterior - como mostrou reportagem do Valor ontem- também ajudou a derrubar o volume de recursos que esses imigrantes costumavam enviar ao país, as chamadas remessas internacionais, usadas para ajudar familiares ou para investir na terra natal. As remessas dos mais de 3 milhões de imigrantes brasileiros espalhados pelo mundo caíram mais de 23% entre 2008 e 2009, para US$ 2,223 bilhões, de acordo com o balanço de pagamentos do Banco Central (BC). Somente dos Estados Unidos, as remessas dos mais de 1,5 milhão de "expatriados" do país tiveram recuo de 30,6% no mesmo intervalo, passando de US$ 1,289 bilhão para US$ 894 milhões. Os mais de 300 mil decasséguis também realizaram menos transferências no período pós-crise: queda de 40%. O BC não detalha informações sobre as remessas provenientes da Europa, onde a situação econômica se agrava e a comunidade brasileira supera 800 mil pessoas. Ainda assim, segundo a imprensa portuguesa, os mais de 200 mil brasileiros que vivem em Portugal remeteram 434 milhões de janeiro a outubro de 2009, 7% a menos que nos dez primeiros meses de 2008. No Reino Unido, os mais de 250 mil brasileiros preferem esperar a libra esterlina se valorizar para voltar a fazer as tradicionais remessas. Admilson Monteiro Garcia, diretor da área internacional do Banco do Brasil, explica que a recessão econômica prejudicou a cotação das moedas dos países ricos, desacelerando as transferências internacionais de imigrantes. "A valorização do real em relação ao dólar é apontada como fator desestimulante ao envio de remessas, fazendo com que os remetentes fiquem aguardando melhores momentos para efetuar o câmbio ou que decidam retornar ao Brasil, pois o nível de salário começa a não compensar sua permanência no exterior." Garcia acrescenta que essas operações do BB foram afetadas em Portugal e na Espanha - de setembro de 2008 , estopim da crise, até hoje, o euro registrou desvalorização de 4,29% frente ao real. Na opinião do diretor do departamento de desenvolvimento econômico da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), Osvaldo Kacef, a redução do fluxo das remessas brasileiras é insignificante para o país, pois elas representam apenas 1% do Produto Interno Bruto (PIB). "Mas são essenciais para Honduras e El Salvador, por exemplo. As transferências internacionais somam 20% do PIB desses países e respondem por manter o equilíbrio de suas contas externas e de toda a economia", diz Kacef. Segundo ele, as remessas enviadas pelos mexicanos, principalmente dos EUA, correspondem a 7% PIB do México, mesmo percentual observado nos balanços de pagamentos de Colômbia e Equador. O fluxo de remessas internacionais contabilizado pelo Banco Mundial (Bird) atingiu US$ 315 bilhões em 2009, valor 6% inferior aos US$ 336 bilhões verificados em 2008. No período pré-crise, a taxa de crescimento era de 15% ao ano. A instituição prevê recuperação no volume de transferências este ano, mas a retomada aos níveis pré-crise deve levar dois anos.