Título: Com ajuda de várias instituições, crise do Iuperj pode estar no fim
Autor: Moura, Paola de
Fonte: Valor Econômico, 26/05/2010, Brasil, p. A2

do Rio

A longa e duradoura agonia do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj) pode estar perto do fim. Pelo menos essa é a intenção de várias instituições que estão se mobilizando para destinar verbas ao um dos mais importantes institutos de ensino de pós-graduação do país, criado há 40 anos. São mais de seis meses de salários atrasados e mais de 11 anos sem depósito no FGTS, isso sem falar em atraso de dívidas com fornecedores. O instituto gasta de R$ 3,5 milhões a R$ 4 milhões por ano. Só em salários, são cerca de R$ 180 mil por mês e o último pagamento saiu em março, referente a outubro do ano passado. Na semana passada, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) se comprometeu a aumentar a verba destinada a bolsas de estudos para professores e alunos. A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) estuda uma forma de aumentar o apoio às pesquisas lá desenvolvidas. O professor Cândido Mendes, pró-reitor da universidade ao qual o instituto pertence, também promete ajudar com a venda de patrimônio da universidade. O professor Jairo Nicolau, diretor-executivo do Iuperj, diz que a crise não começou agora e se arrasta há quase uma década. Nos últimos anos, porém, ela se intensificou, com o aumento dos problemas da Universidade Cândido Mendes. "Eles foram diminuindo os recursos aos poucos e nós fomos nos virando para conseguir verbas de outras fontes", conta. Com isso, o instituto foi sendo esvaziado. "Já perdemos dez professores que não aguentaram a situação. Hoje temos 210 alunos, todos recebem bolsas. Mas os 20 funcionários não têm de onde tirar renda", alerta. Nicolau também se preocupa com a qualidade de ensino do instituto. "Minha experiência pessoal é que o problema prolongado afetou minha vida acadêmica. Acabo tendo de aceitar convites que não aceitaria para compensar a falta de renda aqui. Além do estresse emocional que tira a tranquilidade para concentrar no trabalho. Isso acontece com os outros professores também", diz. O instituto é de grande excelência no ensino. Dois dos quatro programas do Iuperj, mestrado e doutorado em sociologia, têm nota máxima na Capes, 7 (em uma escala que vai de 1 a 7), e os dois restantes, mestrado e doutorado em ciência política, têm nota 6. Por enquanto não há solução concreta, só promessas e reuniões. O professor Cândido Mendes diz que não abre mão do instituto. "Não há menor hipótese de o Iuperj fechar", afirma. Ele explica que os problemas financeiros da universidade são resultados da lei que permite aos alunos não pagarem o curso durante o ano letivo e continuarem estudando. "A lei do calote tira até 28% da nossa receita." E promete: "Vamos fazer a disponibilização de patrimônio." Segundo ele, o dinheiro obtido com a venda de imóveis terá como destino prioritário o Iuperj. "Estamos montando um plano de reestruturação do instituto", completa. Apesar da promessa, outras possibilidades estão sendo estudadas por quem dirige o Iuperj. Entre elas a transformação do instituto em uma Organização Social (OS). A proposta é criar um instituto isolado que poderá captar projetos e ter mais controle da receita. "O pedido leva tempo e está sendo analisado pelo Ministério da Cultura", explica Nicolau. "Mas a marca é forte e é um patrimônio do Rio, vamos conseguir uma solução." Enquanto isto, o presidente da Capes, Jorge Almeida Guimarães, já prometeu aumentar o volume de bolsas. "Vamos dar bolsas a todos os professores de dedicação integral. Já pedimos a lista", afirma. Almeida diz que não há prazo limite para durar o socorro. "Ele durará o tempo que for necessário para a instituição se recuperar." No Rio, a Faperj também estuda junto com a Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) uma forma de ajudar no socorro. O Estado pretende ligar o Iuperj à universidade estadual. No entanto, os estudos ainda estão no início. Enquanto isso, o professor Jairo Nicolau segue tentando arrumar uma solução para o Iuperj. "Vou jogando a rede e ver o que consigo. É um privilégio trabalhar no Iuperj."