Título: Marina quer limitar gastos públicos à metade do PIB
Autor: Costa, Raymundo; Oliveira, Ribamar
Fonte: Valor Econômico, 26/05/2010, Política, p. A7
De Brasília
A candidata do PV à Presidência, Marina Silva, disse ontem que não fará "aventuras" na economia brasileira. Assegurou que manterá o atual tripé da política econômica - câmbio flutuante, metas de inflação e superávit primário -, defendeu a autonomia do Banco Central, sem a necessidade de institucionalização da medida, mas adiantou que o combate à inflação não pode ser feito apenas com aumentos na taxas de juros. "É fundamental cortar gastos, sobretudo os públicos. Nossa intenção é limitar os gastos públicos à metade do PIB". Marina também prometeu fazer uma reforma tributária, mas sem gerar "falsas expectativas". Ela reconheceu que a proposta é difícil e lembrou que essa iniciativa está na agenda do país há 16 anos. "As pessoas assumem a reforma como compromisso e, depois que ganham, fazem uma reforma do compromisso", disse, lembrando que tanto o governo Fernando Henrique Cardoso quanto o governo Luiz Inácio Lula da Silva encaminharam propostas de reforma tributária ao Parlamento e elas esbarraram nos interesses dos congressistas. "Não acredito que tenha faltado empenho de qualquer um dos presidentes". A candidata do PV defendeu o crescimento econômico brasileiro em bases sustentáveis. "Ambiente e desenvolvimento têm de ser colocados em uma mesma equação. Podemos crescer transformando o país em uma sociedade de baixo consumo de carbono, podemos triplicar a produção agrícola sem derrubar mais nenhuma árvore", assinalou. Marina disse que o país não pode aceitar o mero enquadramento no conceito de Bric (Brasil, Rússia, Índia e China). Segundo a senadora, os defensores dessa sigla limitam o Brasil e a Rússia a produtores de energia, alimentos e minerais fósseis e a Índia e China a exportadores de serviços e manufaturados. "Devemos ousar um pouco mais, fazer mais e melhor. O Brasil não pode ser simplesmente um exportador de commodities". Sem defender explicitamente um ministério específico para atender as micro e pequenas empresas, como fez a candidata do PT, Dilma Rousseff, Marina apoiou as propostas de maior atenção aos pequenos empresários. "Se quisermos fazer desse um país mais próspero, a transformação passará por um olhar mais atento às pequenas empresas". Ela citou, inclusive, a história de seu candidato a vice, o empresário Guilherme Leal, dono da Natura e com uma fortuna estimada em US$ 2,1 bilhões. "Ele começou a empresa em sua garagem, utilizando recursos do FGTS e hoje é um dos mais prósperos homens de negócio desse país". Segundo Marina, uma das principais plataformas de campanha de Dilma, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) não pode ser considerado um plano de infraestrutura nacional. "O PAC é uma mera colagem de projetos", avaliou. Ela teme que o país esteja prestes a passar por um "apagão de recursos humanos" e chama a atenção para o fato de o Brasil querer ser uma nação desenvolvida mas não consegue preencher os empregos criados pelo crescimento econômico. "Precisamos investir em inovação tecnológica e educação. Ter 100% das crianças na escola durante o ensino fundamental não significa ensino de qualidade se 40% desses estudantes não chegam à 8ª série", avaliou. Caso seja eleita, Marina garantiu que não fará alianças fisiológicas com os partidos, mas negociações pontuais com o Congresso. Ela disse que PT e PSDB deveriam conversar mais para que a política nacional não fique dependente de legendas como o PMDB e o DEM. Falou também que na democracia não existem líderes que oferecem destinos - apenas os déspotas fazem isso. "Democratas mostram oportunidades para construir o futuro". Marina lamentou mais uma vez que o deputado Ciro Gomes (PSB-CE) tenha sido forçado a desistir da disputa presidencial. "Seria uma disputa mais rica. No primeiro turno, votamos no candidato de nosso coração. No segundo turno, nos desviamos do pior", brincou. (PTL)