Título: Oposição indica mudanças na política externa
Autor: Costa, Raymundo; Oliveira, Ribamar
Fonte: Valor Econômico, 26/05/2010, Política, p. A7

de Brasília

A terceira rodada de debates com candidatos revelou que a política externa do governo Lula pode mudar, se o eleito não for a candidata do PT, Dilma Rousseff. José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV) pretendem transformar em pilar a questão dos direitos humanos, o que dificultaria, por exemplo, acordos como o que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva negociou com o Irã. Serra não tem "reparos" à ação política de Lula no campo internacional, "que projetou bastante o Brasil". O tucano manteria inclusive a política de aproximação com a África. Mas acha que falta maior "agressividade comercial", pois em sete anos e meio, o Brasil assinou apenas um tratado de livre comércio, com um pequeno país, Israel. Num governo tucano, a Câmara de Comércio Exterior (Camex) ganharia mais importância, talvez vinculada diretamente ao presidente. A exemplo de Serra, a candidata do PV, Marina Silva, condena a parceria de Lula com o presidente do Irã, Muhamoud Ahmadinejad. "O Brasil é a única nação ocidental que dá audiência para o Ahmadinejad", criticou ela. "Não creio que haja má intenção", disse Serra sobre o acordo Brasil-Turquia-Irã. "Se tivesse que torcer, até torceria para dar certo, mas não acredito principalmente por causa do parceiro". O pré-candidato do PSDB coloca Ahmadinejad na mesma categoria de ditadores como Benito Mussolini, Adolf Hitler e Josef Stalin. A candidata Dilma Rousseff disse que apoia a política externa do atual governo, que considera responsável. "Eu continuarei essa política política multilateral que, sob qualquer aspecto é muito virtuosa", afirmou. Com relação ao Irã, Dilma disse que o Brasil "optou por uma estratégia de busca da paz e de construção de acordos e não desacordos, por criar pontes e não muros". Um ponto em comum aos candidatos foi a defesa do tripé da estabilização: meta de inflação, responsabilidade fiscal e câmbio flutuante. "Eu ajudei a erguer a mesa, nunca vou derrubar essa mesa", disse Serra, candidato que mais polêmica tem causado com suas declarações sobre a economia. Ele voltou a dizer ontem que a política econômica tem que ser integrada e que o Banco Central não é a Santa Sé. A nova rodada de pesquisas eleitorais balizou o comportamento dos candidatos do PT e do PSDB à Presidência da República no debate promovido ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Pela primeira vez em situação de empate técnico com o tucano José Serra, segundo o instituto Datafolha, a petista Dilma Rousseff tentou reforçar a ideia de que tem vida própria e não é apenas uma sombra projetada do presidente Lula. Serra, por seu turno, disse que a situação atual era de certa forma esperada pelo PSDB, insistiu que o eleitor só começará a se interessar efetivamente pela campanha depois da Copa do Mundo, com o início do horário eleitoral gratuito no rádio e na TV e procurou não demonstrar ansiedade em relação à decisão do ex-governador de Minas Aécio Neves sobre a candidatura a vice-presidente na chapa tucana. Os pré-candidatos afinaram o discurso de acordo com a plateia de empresários. Dilma prometeu a reforma tributária; Serra, conter a desindustrialização. A pré-candidata do PV, Marina Silva, disse que o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) é uma "colagem de projetos". O presidente da CNI, Armando Monteiro Neto, aprovou a sabatina. Disse que todos os candidatos convergiram para as propostas da indústria. Mas algumas propostas específicas, como a criação de um ministério para microempresas (Dilma) foram vistas com cautela. Mais sucesso fez a proposta de Serra de acabar com a tributação sobre o faturamento das empresas de saneamento.