Título: Aumento de 7,7% exigirá corte adicional de gastos, diz Mantega
Autor: Costa, Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 27/05/2010, Política, p. A8

De Brasília

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, informou ontem que vai propor um novo corte nos gastos públicos se o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidir não vetar o aumento de 7,7% aos aposentados que ganham acima do salário mínimo. "Se ele der os 7,7%, recomendarei uma nova redução de despesas para compensar isso (a despesa com o reajuste)", afirmou.

Mantega voltou a afirmar que a Previdência Social não tem condições de dar esse reajuste aos aposentados. O custo da diferença entre os 6,14% já concedidos pelo governo às aposentadorias acima do mínimo e os 7,7% que consta do projeto de lei aprovado pelo Congresso Nacional foi estimado pelo Ministério da Fazenda em R$ 1,6 bilhão ao ano. Por essa razão, o ministro disse que aconselhou o presidente Lula a vetar os 7,7%.

Na avaliação dos técnicos oficiais, além de prejudicar as contas da Previdência, esse reajuste aumentará o consumo e, com isso, contribuirá para aquecer ainda mais a economia. A preocupação da área econômica é evitar um excesso de demanda, que pressione os preços e leve à inflação. Mantega estima que o crescimento deste ano ficará entre 5,5% e 6%, mas alguns importantes economistas do país já projetam uma expansão econômica acima de 7%.

Ontem, o ministro da Fazenda disse que "o governo não quer um crescimento de 7% este ano". Segundo ele, até 6% é sustentável, para que a expansão econômica continue nos próximos anos. "O desejável, do ponto de vista do governo, é um crescimento sustentado e equilibrado, que não seja superior a 6% ou a 6% e uns quebrados", disse.

Recentemente, o governo anunciou um corte de R$ 10 bilhões nas despesas do Tesouro Nacional deste ano para reduzir a demanda do governo e ajudar a desacelerar um pouco a economia. O objetivo declarado da medida é evitar que o freio na atividade econômica seja feito apenas pela elevação da taxa de juro. Antes, em março, o governo já tinha promovido um contingenciamento de R$ 21,8 bilhões nas dotações do Orçamento da União de 2010.

Mantega informou que o presidente Lula ainda não decidiu se vetará o reajuste de 7,7%. Se ele vetar, explicou, o governo terá que conceder um abono por meio de medida provisória, pois as aposentadorias acima do salário mínimo ficariam com um reajuste de apenas 3,5%, que corresponde à inflação do período entre um aumento e outro. "Assim, é natural é que tenha um abono, pois já estamos pagando 6,14% desde janeiro", disse, ao confirmar informação dada pelo ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, no dia anterior. "Nós daremos as alternativas ao presidente, se ele vetar os 7,7%", acrescentou o ministro.