Título: Petista custa a convencer ouvinte de que não se deve castrar pedófilos
Autor: Costa, Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 27/05/2010, Política, p. A8

De São Paulo

"A senhora vai ser mais rigorosa com crime de pedofilia?". Um dos cinco ouvintes escolhidos pelo apresentador Paulo Barboza, da rádio Record, para dirigir perguntas à petista Dilma Rousseff, Maria Aparecida, moradora da Freguesia do Ó, custou a ser convencida pela pré-candidata.

"Concordo com você. Tem crimes que podem ser passíveis de prisão perpétua, mas se você penalizar todas as gradações de crime igual, não foca no mal maior", respondeu Dilma. Maria Aparecida não ficou satisfeita com a resposta e fez nova investida, sugerindo a hipótese de castrar os pedófilos. "Melhor a punição penal do que a física", emendou Dilma. "A impunidade tem de ser mudada. Não é possível ter esforço enorme para prender e grande flexibilidade para soltar. O problema às vezes é a aplicação da lei", acrescentou.

Na volta do intervalo, a ex-ministra voltou à tona. "Por qualquer quantidade de anos que a pessoa for condenada, o que importa é que, nos crimes graves inafiançáveis, a pessoa cumpra a pena integralmente".

Disposta a aumentar as intenções de voto entre as mulheres, a pré-candidata à Presidência aproveitou ontem e entrevista à Rádio Record, para mais uma vez tentar se aproximar das eleitoras, público em que está em desvantagem em relação ao seu principal adversário, José Serra (PSDB). As mulheres são 86% da audiência do programa comandado por Barboza.

Ao comentar as razões que a motivam para a disputa, ela procurou associar o fato de ser mulher com sua capacidade como gestora ao lembrar que foi responsável pela implementação de boa parte dos programas sociais do governo Luiz Inácio Lula da Silva. "A mulher é capaz de cuidar e eu acho que eu sou capaz de cuidar do Brasil", declarou.

Ao ser questionada se, como mulher, teria autonomia para governar caso seja eleita, a petista recorreu a uma metáfora familiar. "O presidente é que nem um chefe de família, ele tem autoridade máxima. Agora, mesmo na casa da gente, a gente conversa com as pessoas, e aí não é com um partido só", disse.

No fim do programa, Dilma novamente direcionou sua fala para o público feminino. "Mulher hoje é chefe de família, empreendedora. A gente, mulher, é uma pessoa especial. Quando a gente quer uma coisa, a gente teima. A gente tem que continuar teimando".

Ao percorrer o país ao lado de Lula, a ex-ministra conseguiu se tornar mais conhecida do eleitorado mais desinformado, formado em sua maioria pelo público feminino. De acordo com a última pesquisa do Datafolha, divulgada no final de semana, Dilma ampliou sua intenção de voto entre as mulheres em oito pontos percentuais, um a mais que entre os homens. Mesmo assim, a petista ainda está, entre as mulheres, cinco pontos atrás de Serra.

Ao responder a uma pergunta sobre os altos impostos cobrados no país, Dilma reiterou o compromisso de enviar ao Congresso uma proposta de reforma tributária. Além disso, prometeu batalhar por uma redução dos tributos que incidem sobre os remédios e todo o setor de energia.

"O Brasil chegou num momento em que, para dar os passos seguintes, vamos que ter que diminuir os impostos. Eu considero a desoneração fundamental em algumas áreas. É um absurdo a tributação sobre o remédio ainda existente no Brasil", ressaltou a pré-candidata, que ainda defendeu a construção de unidades de pronto-atendimento 24 horas e de policlínicas.

Dilma também alfinetou indiretamente Serra ao assegurar que vai acabar com as enchentes no Estado de São Paulo, governado até abril pelo tucano. Ela prometeu ainda que, se eleita, fará investimentos da ordem de R$ 10 bilhões em drenagens. "Não houve investimento durante o governo Lula porque não deu. O governo federal não tinha obrigação de investir em drenagem. Por isso não investiu, mas agora achamos importante para acabar com isso de a cada chuva as casas alagarem e as pessoas perderem tudo".