Título: Campanha de Dilma pressiona por reajuste
Autor: Costa, Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 27/05/2010, Política, p. A8

De Brasília

A campanha da ex-ministra Dilma Rousseff (SP) também pressiona o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a manter o reajuste de 7,7% para as aposentadorias acima de um salário mínimo, conforme aprovado no Congresso. Mais que assegurar o apoio dos aposentados, a coordenação da campanha petista teme a exploração que a oposição pode fazer de um eventual veto do presidente ao projeto.

A torcida na campanha de Dilma é para o presidente sancionar o reajuste de 7,7% e vetar o fim do fator previdenciário, servido pelo Congresso ao Palácio do Planalto, em ano eleitoral, no mesmo pacote. A aposta do PT é que o presidente não deve se desviar de sua história: ele nunca vetou projeto de interesse sindical e nem quer passar para a história como "algoz de velhinho".

Mais que o apoio dos aposentados s sindicalistas, o que leva a campanha de Dilma a apoiar o reajuste é a expectativa de um eventual veto de Lula ser explorado politicamente pelos candidatos do PSDB, José Serra, e do PV, Marina Silva. Isso, além das inevitáveis manifestações contrárias ao governo e sua candidata campanhas de associações de associações de aposentados.

Serra tem dito que vai respeitar a decisão do governo, independentemente de seu julgamento sobre o mérito da decisão. A campanha de Dilma tem dúvidas e acompanha com desconfiança a movimentação da oposição, no Congresso, para aprovar projetos que implicam aumento de gastos, como a PEC 300. A emenda equipara os salários dos policiais militares e bombeiros de todo o país àqueles pagos no Distrito Federal. Há também um projeto para a readmissão de cerca de 50 mil servidores que entraram em programas de demissão voluntária, no governo Fernando Henrique Cardoso, mas hoje dizem-se lesados pelo Estado.

O interesse da campanha de Dilma é político-eleitoral, mas assessores da candidata do PT a presidente também empilharam argumentos técnicos para justificar a sanção do reajuste dos aposentados. Um deles é que o emprego apresenta um desempenho crescente: projetava-se a criação de dois milhões de novos postos de trabalho, neste ano, mas a previsão já está sendo revista para 2,4 milhões. E isso significa mais receita para a seguridade social.

O texto está no Palácio do Planalto para a sanção presidencial. O projeto original do governo previa o aumento em 6, 14% nas aposentadorias acima de um salário mínimo, a um custo de R$ 6,5 bilhões. Aproveitando-se do clima eleitoral, aposentados e sindicalistas conseguiram convencer deputados e senadores a aprovar um reajuste de 7,7%, o que significa cerca de R$ 1,6 bilhões a mais de impacto nas contas da Previdência Social.

O mesmo projeto acabou com o fim do fator previdenciário, a regra pela qual as aposentadorias são concedidas de acordo com idade, tempo de contribuição e expectativa de vida - um custo adicional de R$ 4 bilhões, segundo cálculos do Ministério da Previdência Social.

Apesar do interesse eleitoral de Dilma, o ministro Guido Mantega (Fazenda) disse a assessores que decidiu pressionar Lula a vetar as duas medidas. Segundo Mantega, além de desarrumar a Previdência Social, mas medidas aprovadas pelo Congresso também podem influir para aquecer a demanda no consumo, especialmente o reajuste de 7,7%. Isso num período em que já há pressão inflacionária dos alimentos (que começou a ceder, segundo técnicos da Fazenda).

A campanha de Dilma Rousseff, no entanto, acha que há margem de manobra para o presidente vetar o fim de fator previdenciário e sancionar o reajuste de 7,7%. Além do aumento do emprego, a campanha argumenta que deve ser também levado em conta o "bônus geracional" - a parcela jovem da população empregada que ainda demora a se aposentar.

A coordenação da campanha de Dilma Rousseff, segundo integrantes do comitê disseram ao Valor, não considera que a defesa do reajuste de 7,7% signifique falta de compromisso da ex-ministra da Casa Civil com os gastos públicos. Dilma fará cortes no custeio, se for eleita, mas "o melhor corte para assegurar o investimento", na expressão de uma fonte credenciada.