Título: 2025: o apogeu brasileiro
Autor: Weintraub, Abraham
Fonte: Valor Econômico, 27/05/2010, Opinião, p. A12

Em 2025 chineses e indianos consumirão mais energia, papel, açúcar, minérios. O Brasil será um grande fornecedor

Sim, as antigas nações centrais conseguiram evitar a 2ª grande depressão. Houve uma forte injeção de liquidez e gastos públicos; anestésicos e antitérmicos para tratar apendicite. A cirurgia é necessária e quanto mais adiarem tanto pior. Precisam recriar suas economias, repactuar suas sociedades, rediscutir expectativas de consumo, aposentadoria, natalidade e reorganizar os meios produtivos. Do Brasil, dada sua situação espetacular, é difícil perceber a dramaticidade do cenário para Europa, Japão e mesmo EUA.

Bens e serviços, produzidos por uma força de trabalho velha, inadequados ao estilo de vida esboçado para as próximas décadas, serão substituídos por novos produtos advindos das novas tecnologias, feitos em outros países, por empregados mais jovens e motivados. Há um fosso cultural separando Ásia e Europa: ética do trabalho X qualidade de vida. Além disso, as novas tecnologias permitirão uma customização da produção e do consumo em massa de bens e serviços. Isso resultará na maior segmentação das sociedades, diminuindo o sentimento de classes. Trabalhadores, executivos, capitalistas etc. estão sendo reagrupados em outras categorias. Nossos netos (aos leitores que, como eu, ainda têm o hábito de se reproduzir) trabalharão e consumirão remotamente. Exagero? Não havia internet ou celular quinze anos atrás.

Não é a primeira vez que isso ocorre. Revolução tecnológica, rápida urbanização, surgimento e desaparecimento de países, produtos, riquezas, bolha e o "crash" de 1929. Tudo intensificado por novos meios de transporte, empresas, enfim, uma nova sociedade urbana, baseada no consumo de massa, ligada por recém-inventados meios de comunicação. Guerras, revoluções e evoluções sociais também ocorreram, pois os grupos massificados tinham interesses conflitantes que precisavam pactuar a relação capital x trabalho. Rússia, Japão, Alemanha, cada nação teve abordagens distintas, até prevalecer o modelo anglo-saxão.

Atualmente, ainda não está clara como será a reestruturação dos meios produtivos, muito menos como serão os caminhos das sociedades e da geopolítica. Palpite: os meios produtivos levarão dez anos para se reorganizarem, e as sociedades/geopolítica, duas décadas.

Pensei em escrever sobre investimentos no Brasil ou a crise da Europa. Mas já havia abordado tais temas neste mesmo jornal. Além disso, agora, não é o vil metal que está em jogo. Dinheiro, assim como belicismo ou dogmas, é um vértice de poder. Isso sim é que começou a ser disputado: poder. Não sei como o mundo será reorganizado, apenas é certo que haverá uma mudança dramática, igual às dos períodos próximos da II Guerra ou pós-Guerra Fria.

Neste momento, conceitos como direita ou esquerda são falaciosos, pois parecem opostos, enquanto, na verdade, estão unidos pelo enfraquecimento institucional/democrático. Instituições, Res-pública, liberdades individuais, há uma deterioração urbi et orbi que deve prosseguir com alguns espasmos de luz aqui e acolá.

Ainda não está claro como o uso definitivo da internet, da nanotecnologia, da nova matriz energética ou da biociência afetará nossas vidas. Em decorrência disso, o embate ideológico está em fase embrionária. Novos líderes surgirão, pois, evidentemente, não estou falando dos NeoCon, arautos do ensino do criacionismo inteligente, ou do necro-ditador cubano, grande timoneiro dos sem-barco.

Como identificar os jogadores? No passado, queimar livros ou pessoas era um claro sinal negativo. Nazistas e inquisidores tinham essa mania. Diria que hoje, criticar a internet ou o Google é um sinal importante.

Exagero? Segundo a Freedomhouse, nos últimos anos o número de democracias retrocedeu e em 2009 caiu para o menor patamar desde 1995. Nas democracias restantes tem havido piora qualitativa. Enfraquecimento institucional, diminuição de liberdades individuais, de expressão, de informação, direito de propriedade, até o direito de ir e vir. Quem tiver dúvidas, tente fazer uma viagem internacional ou frequentar espaços públicos nas metrópoles mundiais. Mas não foi uma ação decorrente do terrorismo? Justamente, mais um fato atestando um "adorável" mundo novo, onde Estados, além da Grécia, falirão; empresas ícones de seu tempo desaparecerão.

Nessa tempestade, o Brasil é um porto seguro. A China continuará crescendo a taxas assombrosas até uns US$ 10 mil per capita. Isso nos dará dez a quinze anos de estabilidade. Enquanto produtos e serviços no mundo mudarão dramaticamente, o básico sofrerá menos e sua demanda continuará crescendo. Chineses e indianos consumirão mais energia, papel, açúcar, proteínas, minérios, etc. O Brasil será um grande fornecedor e isso dará o pilar externo para sua economia baseada no mercado interno: 200 milhões de consumidores, que amadureceram, mas só envelhecerão após 2030. Nesse período, nossa renda per capita pode passar de US$ 9 mil a US$ 15 mil. Enfim, ao redor do ano 2025 o Brasil viverá seu apogeu.

Não seremos a fagulha do renascimento libertário econômico ou político, tampouco um vetor obscurantista. Nessa idade de incertezas, o Brasil, moreno faceiro, é um país inteligente o bastante para não ser radical. Historicamente, nossos movimentos são suaves. Há uma deterioração mundial, mas aqui ela é marota, quase imperceptível. Além disso, tendemos a entrar tarde em qualquer ciclo, sendo que a inércia do antigo capitalismo ocidental ainda nos gera uma dinâmica positiva. Assim, crises continuarão a ser oportunidades para comprar Brasil. Aos que me acham otimista demais, minha recomendação: conversem mais com os gringos!

Abraham Weintraub é diretor responsável pela Votorantim Corretora e BV Securities