Título: MG dá largada na produção de nanotubos no Brasil
Autor: Santos, Chico
Fonte: Valor Econômico, 27/05/2010, Valor, p. B11

Do Rio

As pesquisas realizadas pela da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) com tecnologia de nanotubos de carbono (fibras de carbono mil vezes mais finas do que as convencionais) vão ganhar aplicação industrial. A primeira fábrica do país, em escala pré-industrial, vai começar a ser construída no Estado com o apoio da Petrobras que conta com a tecnologia para viabilizar os equipamentos de altíssima performance necessários à produção de petróleo na camada pré-sal. Uma grande fabricante de cimento já decidiu também usar os nanotubos para produzir um cimento mais resistente, poroso e durável.

A produção dos nanotubos ficará a cargo do Centro de Tecnologia de Nanotubos (CTNanotubos), uma parceria da UFMG com a Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado de Minas Gerais. Segundo o secretário adjunto de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Estado, Evaldo Vilela, o governo mineiro aprovou uma verba inicial de R$ 500 mil para o começo da instalação do CTNanotubos, incluindo a elaboração do seu plano de negócios, dentro do Parque Tecnológico da UFMG.

Embora o investimento total no CTNanotubos esteja orçado em R$ 30 milhões, Vilela avalia que a dotação inicial do Estado será suficiente para as primeiras ações, até porque o núcleo de pesquisas da UFMG já possui as máquinas necessárias ao início das atividades. O restante dos recursos, segundo ele, deverá vir de parcerias com o governo federal e com o setor privado. O físico Luiz Orlando Ladeira, um dos líderes das pesquisas, disse que a Petrobras deverá ser parceira no projeto. Uma das pesquisadoras da UFMG, Glaura Silva, já está trabalhando com a estatal.

"A tecnologia dos nanotubos de carbono explodiu no mundo nos últimos cinco anos, com um aumento enorme de patentes. Nós estamos pegando o bonde quando ele está arrancando", disse o pesquisador Marcos Pimenta, da UFMG, coordenador do projeto. Ele disse que a UFMG vem pesquisando os nanotubos há dez anos, contando atualmente com 40 pesquisadores e 60 alunos. "É natural que saia de Minas Gerais essa iniciativa (da primeira fábrica)", completou.

Segundo Pimenta, a criação do CTNanotubos permitirá que a tecnologia no Brasil passe da fase de pesquisa básica para uma escala de desenvolvimento (piloto), com a produção de três toneladas por ano dentro de três anos. Ele disse ainda que o planejamento prevê alcançar uma escala industrial em cinco anos, prazo que poderá ser reduzido, dada a velocidade com que a nova tecnologia vem ampliando seu leque de aplicações.

Na escala piloto, a ideia é colocar a unidade em funcionamento dentro de seis meses. O coordenador do projeto disse que a fábrica deverá funcionar na primeira fase com cerca de 20 trabalhadores, além dos cientistas. Há, segundo ele, uma preocupação grande com a segurança das pessoas que irão trabalhar com os nanotubos, dado os riscos que um produto de dimensões tão reduzidas pode acarretar.

Foi para atender as demandas por materiais para uso nas condições extremas do pré-sal que os pesquisadores da UFMG decidiram começar a aplicação dos nanotubos no desenvolvimento de plásticos mais resistentes e duráveis. O contato com a indústria de cimento já vinha sendo desenvolvido há mais tempo.

No mundo, o último dado disponível estimava a produção anual de nanotubos em aproximadamente mil toneladas. O pesquisador Ladeira disse que na China, por exemplo, eles já estão sendo usados para desenvolver tecidos que não precisam ser lavados após o uso.