Título: Carteiras de ações sofrem saques de R$ 1,47 bilhão
Autor: Perez, Antonio
Fonte: Valor Econômico, 27/05/2010, Eu & Investimentos, p. D2

De São Paulo

A onda vendedora que toma conta da bolsa brasileira desde o início deste mês bateu à porta dos fundos de ações na semana passada. Depois da saída de apenas R$ 245 milhões entre 10 e 14 de maio, quando o Ibovespa tombou 6,10%, a categoria amargou resgate líquido de R$ 1,47 bilhão na semana encerrada dia 21 - período em que o Ibovespa caiu mais 4,97%. As informações são da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).

A saída das carteiras de ações revelaria, em tese, um investidor menos disposto a correr riscos. Mas a captação forte dos fundos multimercados na semana passada (R$ 3,92 bilhões) sugere que os investidores não perderam o apetite por aplicações mais arriscadas. No acumulado do mês, os multimercados já receberam R$ 9,19 bilhões, enquanto os fundos de ações perdem R$ 1,63 bilhões no período.

Ao contrário do que ocorreu na crise de 2008, os investidores estão percebendo que, apesar dos problemas na Europa, não precisam eliminar totalmente o risco de suas aplicações, ressalta Marcelo Pereira, sócio da Tag Investimentos. "Parece que há mais um novo rebalanceamento da carteira do que uma fuga maciça do risco", afirma.

Das seis modalidades de estratégias de gestão de multimercados elencadas pela Anbima, três conseguiram apresentar rentabilidade positiva na semana passada. Destaque para os fundos de juros e moedas, com alta de 0,25%, e para as carteiras multiestratégia, rentabilidade de 0,22%. Essas categorias conseguiram superar a variação do CDI no período (0,18%). O pior desempenho ficou com os multimercados macro, que tiveram perda de 0,15%.

Pereira vê boas oportunidades em fundos multimercados que aplicam em papéis de crédito privado, como debêntures no mercado secundário e Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI) . Além de castigar a bolsa, a aversão ao risco derrubou os preços desses papéis, e quem comprar agora pode garantir uma rentabilidade muito atraente, diz o sócio da Tag. "O investidor tem que aproveitar, porque, quando o cenário melhorar, as taxas desses papéis vão diminuir", ressalta.

Por ora, os gestores de fundos de ações que buscam superar Ibovespa com a escolha de papéis apresentam desempenho decepcionante. Na semana passada, as carteiras Ibovespa ativo caíram 5,07% na média, acima da perda do índice. No mês, enquanto o Ibovespa acumula queda de 10,77%, essas aplicações perdem 11,39%. Entre os chamados fundos passivos, o pior desempenho fica com as carteiras de Petrobras com recursos próprios. Elas perderam 7,68% na semana passada e 15,01% no mês, na esteira do tombo de 8,34% (semana) e de 15,91% (mês até o dia 21) do papel preferencial (PN, sem direito a voto) da estatal.

Apesar da perda de recursos dos fundos de ações, Pereira não nota um movimento agudo de abandono da renda variável. Escaldado por crises anteriores, o investidor pessoa física já não abre mão das aplicações em bolsa quando o mercado chacoalha. A maioria sabe que o Brasil tem bons fundamentos, ressalta Pereira, e que os investidores estrangeiros estão deixando o país apenas porque precisam cobrir perdas lá fora.

Para quem deseja aumentar a parcela do patrimônio aplicada em bolsa, a recomendação é comprar, em quantidades pequenas, quando o Ibovespa estiver girando entre 57.700 e 59 mil pontos. Pereira acredita que, em algum momento, a União Europeia terá que adotar uma postura mais incisiva para resolver os problemas fiscais da região. Isso tranquilizará os investidores, que voltarão ao mercado acionário brasileiro. "O estrangeiro está com o dedo no gatilho, pronto para voltar", aposta.

A onda de aversão ao risco que castiga a bolsa tem feito a alegria dos fundos cambiais. Apoiados na alta de 8,11% do dólar em maio (até o dia 21), essas carteiras apresentam as maiores rentabilidade do setor de fundos: 3,10% na semana passada e 7% no acumulado do mês. O desempenho, contudo, não tem atraído investidores. Em maio, essas carteiras amargam saques líquidos de R$ 10,12 milhões.