Título: Aécio volta a rechaçar a Vice de Serra
Autor: Lima , Vandson
Fonte: Valor Econômico, 28/05/2010, Política, p. A5

Na volta da viagem que fez à Europa nas últimas duas semanas, o ex-governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), frustrou as expectativas dos tucanos e voltou a descartar a possibilidade de ser o vice da chapa do pré-candidato tucano José Serra à Presidência da República, comprometido que está com as eleições em Minas, por onde disputará o Senado.

"Minha decisão tem que ser tomada a partir de uma análise muito profunda que eu faço do cenário político. Estou absolutamente convencido de que a melhor forma para ajudar a dar a vitória ao governador Anastasia e ao companheiro e amigo José Serra, é estando em Minas como candidato ao Senado. Não houve nenhuma modificação no cenário", afirmou Aécio, alertando ainda para a necessidade de que ansiedades de correligionários sejam contidas.

Aécio refutou a ideia de sua decisão ser pautada por escolhas pessoais: "Acho que ninguém já deu mais demonstrações de visão de partido, de país do que eu, na medida em que eu abro mão da pré-candidatura eu faço isso para garantir a unidade partidária". O ex-governador mineiro procurou ainda relativizar seu peso na campanha presidencial: "Ao lado do companheiro Serra, estarei viajando pelo Brasil, como mais um companheiro do partido, ajudando no que for necessário".

Sobre a estratégia de campanha a ser usada nas eleições presidenciais, Aécio disse que a oposição não deve temer reconhecer os avanços que ocorreram no governo do presidente Luíz Inácio Lula da Silva, mas demonstrar que pode avançar: "Se não tivéssemos um estado tão aparelhado, se tivéssemos uma ousadia no que diz respeito à política monetária, portanto com uma queda mais rigorosa da taxa de juros, poderiamos avançar mais".

Em Gramado, Serra comentou as declarações de Aécio: "Eu já sabia disso há muitos meses". Questionado se a decisão representa perda à sua candidatura, limitou-se a dizer que "você só perde o que tem e Aécio não era candidato a vice".

As declarações de Aécio foram consideradas ontem pela cúpula do PSDB definitivas. Vista como "palavra final" do mineiro, a entrevista deve deslanchar as articulações para a escolha do candidato a vice, dentro ou fora do PSDB. O partido quer definir o nome até o dia da convenção que vai homologar a candidatura de Serra, 12 de junho.

"A entrevista coloca uma pedra em cima dessa cobrança para Aécio ser vice. Era tudo especulação. Não tinha nenhuma novidade para o assunto voltar", afirmou o senador e ex-presidente do partido, Tasso Jereissati (CE) - um dos cotados no PSDB para ser o vice de Serra, se a opção for por uma chapa puro sangue.

Para o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), o gesto de Aécio descartando a vaga de vice pode ser considerado decisivo e libera o partido para concluir os entendimentos em torno da composição da chapa para a Presidência . "Agora vamos cuidar do problema. Tudo tem seu tempo. O tempo é agora", disse Guerra, que é coordenador da campanha nacional.

Tucanos e aliados de Serra de outros partidos estavam preocupados com a escalada de pressão para que Aécio aceitasse compor a chapa presidencial. Avaliavam que isso enfraquecia o pré-candidato e transformava o mineiro em uma espécie de salvador da pátria.

A possibilidade de o senador Francisco Dornelles (PP-RJ) ser convidado para ser o vice de Serra não foi abandonada pelos tucanos. A escolha é considerada eleitoralmente vantajosa, porque traria o PP formalmente para a aliança. Além disso, Dornelles reforçaria a confiança da área empresarial na chapa e seria uma espécie de avalista no setor financeiro. Já Tasso Jereissati poderia reforçar os votos da chapa no Nordeste, região em que Serra apresenta seu desempenho mais fraco em relação à principal adversária, a petista Dilma Rousseff.

O DEM, principal parceiro do PSDB na aliança, abriu mão de ocupar a vaga de vice para Aécio, considerado o único nome de consenso, capaz de unir todos os aliados. O presidente do partido, deputado Rodrigo Maia (RJ), aliado de Aécio, aguardava a palavra final do ex-governador para avaliar o quadro. O nome do DEM mais citado no próprio partido, com aceitação mais fácil pelo candidato a presidente, é o do deputado José Carlos Aleluia (BA), um dos coordenadores regionais da campanha de Serra. Quando se fala em vice do DEM, tem sido citada a senadora Kátia Abreu (TO), presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), com menos chance pelo forte carimbo de representante do setor ruralista.(Colaborou Sérgio Bueno, de Gramado)