Título: Índia acelera e bloco de emergentes superaquece
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Fonte: Valor Econômico, 01/06/2010, Internacional, p. A10
A Índia divulgou ontem um crescimento forte no primeiro trimestre, num momento em que cresce a percepção de que os emergentes estão crescendo a um ritmo além do potencial. O economista Nouriel Roubini, da Universidade de Nova York, advertiu que os países do Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) estariam superaquecidos.
O crescimento anualizado indiano entre janeiro e março foi de 8,6%. A China, cresceu 11,9% no mesmo período. O Brasil, segundo expectativas do mercado, deve ter crescido de 8,5% a 9% - o resultado oficial sai na semana que vem.
Ontem, o presidente do Banco Central Europeu, Jean-Claude Trichet, elogiou os países em desenvolvimento e disse que eles continuam a ser "uma fonte de vitalidade para a economia mundial".
Roubini, que alcançou notoriedade internacional por antever a crise financeira americana, esteve em um evento em São Paulo e apontou preocupações com o que chama de superaquecimento da economia dos emergentes.
Segundo ele, o crescimento potencial do Brasil - determinado por fatores como investimento em capital fixo - não se recupera no mesmo ritmo da expansão econômica, que, segundo projeções de mercado, deve marcar 6,5% neste ano. Desta forma, o crescimento potencial deveria também ser acima de 6%, com vista a neutralizar as pressões inflacionárias.
Além de Brasil, o professor fez previsões para o crescimento das maiores economias. Quanto aos EUA, ele acha que o crescimento deve desacelerar para menos de 2% no segundo semestre.
Quanto à China, o desafio do país asiático é aumentar a demanda doméstica para sustentar sua expansão, atualmente baseada demais em investimentos e exportações, afirmou.
Apesar de apontar alguns obstáculos, o "Doutor Apocalipse", apelido dado a Roubini por suas previsões muitas vezes pessimistas, mostrou otimismo em relação ao desempenho dos mercados emergentes, porque suas economias mostram uma combinação de estrutura macroeconômica sólida, baixa alavancagem e maior crescimento potencial na comparação com os países desenvolvidos.
E disse que Brasil e Índia estariam em "melhor posição" do que a China no que tange a força da economia doméstica.
No caso indiano, o avanço da economia nos três meses até março foi guiado pelo forte desempenho da indústria de transformação, segundo os dados divulgados ontem. A manufatura registrou ampliação de 16,3%, no confronto com um ano antes, assim como do segmento de mineração, com alta de 14%.
Entretanto foi a alta do consumo que ligou o sinal de alerta para especialistas. "As pressões pelo lado da demanda também estão se acumulando, o que se torna um sinal preocupante para a inflação", disse Vishnu Varathan, economista da Forecast Singapore. "Será difícil para o Reserve Bank of India [BC indiano] evitar um aumento de juros."
Entre outubro e dezembro de 2009, o PIB da Índia havia crescido 6,5% (dado revisado).
Nos 12 meses terminados em março, a economia indiana expandiu-se 7,4%, pouco mais do que a previsão do governo (7,2%). O setor manufatureiro, novamente, apareceu como um dos impulsionadores da atividade.
Para o ano fiscal atual, o ministro das Finanças da Índia, Pranab Mukherjee, acredita na continuidade do ímpeto de crescimento e espera um avanço de 8,5% no PIB.