Título: NE e SE são destaques do comércio no ano
Autor: Lamucci , Sergio
Fonte: Valor Econômico, 07/06/2010, Brasil, p. A3

As vendas no varejo crescem a taxas expressivas no país inteiro neste ano, mas o desempenho no Nordeste e no Sudeste chama ainda mais atenção, por ocorrer em cima de uma base de comparação robusta - em 2007, 2008 e 2009, o comércio subiu com mais força exatamente nessas regiões. Nos 12 meses até março, houve expansão de 9,3% no Nordeste e de 8% no Sudeste, segundo estimativas da Tendências Consultoria Integrada a partir dos dados estaduais do IBGE. Na média de todo o Brasil, as vendas cresceram 8% no período.

No Nordeste, a importância dos programas sociais como o Bolsa Família e das aposentadorias na massa de rendimentos da região é fundamental para explicar o bom resultado, diz o economista Adriano Pitoli, da Tendências. No primeiro trimestre, o comércio na região teve alta de 14,9% sobre o mesmo período de 2009.

No Sudeste, a recuperação do mercado de trabalho parece ser o principal impulso às vendas no varejo. Nessa região, elas subiram 12,4% de janeiro a março, abaixo dos 12,8% da média nacional. A alta mais forte nesse período foi na região Norte, de 17,7%, mas aí a base é mais fraca.

Pitoli observa que, no Nordeste, as aposentadorias do INSS respondem por quase 19% da renda familiar, percentual superior aos 15,2% do Brasil todo. Uma parte expressiva dos aposentados nordestinos tem o benefício atrelado ao salário mínimo, que sofreu reajustes elevados nos últimos anos, lembra ele. Em 2010, além de o piso salarial subir 9,7%, o aumento vigorou a partir de janeiro, entrando no bolso do beneficiário em fevereiro, um mês antes do que em 2009.

Pitoli também acredita que o fato de o Bolsa Família representar 2,6% da renda dos nordestinos, acima da média nacional de 0,8%, contribui para o bom desempenho do comércio na região. "Esses dois fatores não esgotam toda a questão, mas são muito importantes para explicar a força do comércio no Nordeste." Em 2009, quando o Brasil sofreu o impacto da crise global, as vendas no varejo no Nordeste aumentaram 6,7%, mais que os 5,9% registrados no país.

A economista Luiza Rodrigues, do Santander, destaca também o avanço mais forte do crédito nos Estados do Nordeste do que no resto do país. De janeiro a março, o saldo de empréstimos e financiamentos na região cresceu 20,5% sobre o mesmo período de 2009, já descontada a inflação, segundo a Tendências. No Brasil, a alta foi de 17%. A oferta de crédito ajuda a impulsionar o comércio, sendo um dos fatores que sustentam a força do varejo nos últimos anos.

O analista Felipe Insunza, da Rosenberg & Associados, diz que o peso maior dos programas sociais e das aposentadorias no Nordeste impulsiona não apenas o comércio, mas também os preços de serviços como educação e habitação. "Na média das regiões metropolitanas de Recife, Salvador e Fortaleza, os itens de educação no IPCA avançaram 7,02% de janeiro a abril, enquanto nos demais Estados eles subiram em média 5,12%."

No Sudeste, a recuperação do mercado de trabalho dá força para o bom desempenho do comércio, acredita Insunza. Das 346,5 mil vagas com carteira assinada criadas no Brasil no setor de serviços de janeiro a abril, 60% apareceram na região. O Sudeste respondeu também por 70% dos 287,5 mil empregos formais surgidos na indústria de transformação no período. Em 2009, porém, a região viu o fechamento de 44,6 mil postos formais na indústria de transformação, e mesmo assim as vendas no varejo no Sudeste aumentaram 6,2%, acima da média nacional de 5,9%.

Uma possível explicação é que o setor de serviços seguiu forte, com a geração de 56% das 500 mil vagas surgidas no segmento no país inteiro.