Título: PSDB aumenta pressão por apuração sobre suposto dossiê
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Fonte: Valor Econômico, 07/06/2010, Política, p. A7

De São Paulo cinco dias de homologar a candidatura do ex-governador José Serra à Presidência da República, em convenção partidária a se realizar sábado, em Salvador (BA), o PSDB está determinado a cobrar apuração de todos os fatos envolvendo a denúncia de espionagem e tentativa de elaboração de suposto dossiê contra o ex-governador paulista, por parte de pessoas ligadas à campanha da pré-candidata petista, Dilma Rousseff.

Os tucanos dizem que esclarecer o que de fato aconteceu é uma forma de evitar que práticas de "arapongagem" tenham continuidade na campanha presidencial. "É deplorável e recorrente esse expediente dos dossiês. Isso quebra a base da convivência saudável e democrática", diz o presidente do PSDB e coordenador da campanha presidencial tucana, senador Sérgio Guerra (PE).

Para o deputado Gustavo Fruet (PR), líder da minoria no Congresso, a apuração servirá para "dar um freio e evitar que esse comportamento seja banalizado na campanha". Fruet tem aval de Guerra para tomar quatro providências nesta semana: tentar convocar os envolvidos para depor na Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência do Congresso, pedir abertura de inquérito na Polícia Federal, complementar com os novos fatos a representação que o PPS propôs ao Ministério Público pedindo investigação do suposto dossiê e acionar o Ministério Público Eleitoral para apurar se houve abuso de poder econômico na pré-campanha.

O episódio do suposto dossiê contra Serra resultou no afastamento do jornalista e consultor Luiz Lanzetta da pré-campanha de Dilma. Sua empresa, a Lanza, contratava pessoas para trabalhar na equipe de comunicação da candidatura. Ele pediu desligamento após a publicação, pela revista "Veja", de entrevista do delegado aposentado da Polícia Federal Onézimo Sousa, que o acusa de propor a montagem de um grupo de espionagem por R$ 1,6 milhão. O objetivo seria investigar tucanos e vazamentos de reuniões realizadas dentro do comitê. Em entrevista à "Folha de S. Paulo", Lanzetta confirmou ter se reunido com Onézimo, mas deu outra versão.

A reunião teria acontecido no dia 20 de abril, no restaurante Fritz, em Brasília, e também estavam presentes o jornalista Amaury Ribeiro Jr., Idalberto Matias de Araújo (sargento da reserva e ex-agente do serviço secreto da Aeronáutica conhecido como "Dadá") e o empresário Benedito de Oliveira. Onésimo teria contado que o deputado federal Marcelo Itagiba (PSDB-RJ) estaria trabalhando em dossiês contra os governistas e, segundo Lanzetta, ofereceu-se para um trabalho de contraespionagem - que teria sido recusado.

O presidente do PT e coordenador da campanha de Dilma, José Eduardo Dutra, por sua vez, promete interpelar judicialmente Serra hoje, para que ele confirme ou não declaração atribuindo à pré-candidata do PT a responsabilidade pela tentativa de elaborar um dossiê contra ele.

Além de analisar as providências cabíveis em relação ao suposto dossiê, a coordenação da campanha de Serra tem, na agenda da semana, a discussão sobre definir ou não o candidato a vice-presidente até sábado. Os tucanos estão divididos. Uma ala acha que, sem anunciar o nome, a convenção ficará enfraquecida. Para setores próximos do candidato, no entanto, escolher o vice agora é eliminar a possibilidade de negociar novos apoios até o prazo final em 30 de junho. Para essa ala, nenhum nome de vice causaria impacto positivo na convenção, exceto o do ex-governador de Minas Gerais Aécio Neves, que tem mantido a disposição de disputar o Senado.

Os resultados da pesquisa Ibope divulgada sábado, mostrando Serra e Dilma empatados, com 37% das intenções de voto cada um, são considerados previsíveis pelos tucanos envolvidos na pré-campanha. Eles estimavam que ambos chegariam equilibrados no fim de junho, quando se encerra o prazo das convenções. Avaliam que Dilma cresceu ao se tornar mais conhecida e ao ser identificada como a candidata do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Com o nível de conhecimento da pré-candidata petista alto como o de Serra, os tucanos esperam, primeiro, crescimento de Serra após a transmissão do programa partidário do PSDB (17 de junho) e dos comerciais (o último é 29 de junho). Depois, a aposta é no programa eleitoral gratuito, a partir de agosto, e nos debates entre os candidatos.