Título: Defasagem escolar dificulta contratação de atendentes de call center
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Fonte: Valor Econômico, 07/06/2010, Especial, p. A12

Apesar dos avanços observados nos últimos anos, as capitais de importantes Estados do Nordeste, Bahia e Pernambuco, seguem no topo da lista de desempregados divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na última, referente a abril deste ano, as regiões metropolitanas de Salvador e do Recife mostram índices de desemprego de 11,2% e 9,1%, respectivamente, contra uma média nacional de 7,3%.

A defasagem das duas regiões no ranking do emprego já vem de muitos anos. É reflexo do crescimento desordenado das áreas urbanas sem investimentos necessários para a absorção da mão de obra disponível. Com o agravante da falta de qualificação profissional, surge um bolsão permanente de desempregados, trabalhadores muitas vezes incapazes de preencher as milhares de vagas que brotam a partir do avanço da economia nordestina.

De acordo com o economista Alexandre Rands, da consultoria pernambucana Datamétrica, a região Nordeste sofre de um fenômeno de "falta de credibilidade no capital social". Segundo ele, "em Porto Alegre, por exemplo, é mais fácil uma empresa contratar um empregado pelo jornal ou pela internet, baseada apenas nas informações do currículo", disse o economista. "Aqui no Nordeste é mais difícil. As empresas ficam esperando algum tipo de indicação."

O resultado deste processo é que as vagas acabam demorando mais tempo para serem preenchidas em Salvador e no Recife do que em Porto Alegre ou São Paulo. Isso resulta, segundo Rands, em queda na eficiência das empresas, principalmente as pequenas, que não contam com estrutura para fazer a seleção de candidatos.

A falta de capacitação é outro obstáculo importante, que traz à tona mais uma realidade curiosa. Em Salvador e no Recife, cidades líderes em desemprego, há muitas vagas sobrando. Os setores da construção civil e de teleatendimento, intensivos em mão de obra, estão passando por sérias dificuldades para encontrar profissionais minimamente habilitados.

Na construção civil, as empresas disputam pedreiros, pintores, armadores e eletricistas. "O setor tem feito reiteradas manifestações sobre a falta de profissionais", afirma o secretário de Trabalho e Emprego da Bahia, Nilton Vasconcelos. Ele admite preocupação do poder público com o déficit de mão de obra para os próximos anos, quando investimentos em infraestrutura serão intensificados no Estado. Para enfrentar o problema, o governo da Bahia tem reforçado as parcerias com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), para aumentar o número de turmas.

Francisco Soares, gerente de recursos humanos da Tel Telemática, empresa baiana do setor de call center, conta que de cada dez candidatos a uma vaga de atendente, com salário de R$ 510 por mês, somente um é contratado. Apesar de o posto exigir apenas segundo grau, é difícil preencher todas as vagas. Segundo ele, a defasagem escolar é a principal responsável pelo baixo aproveitamento. "Redação, conhecimentos gerais e fluência verbal barram muitos."

Além desses problemas, muitos candidatos têm demonstrado dificuldades de raciocínio lógico. A avaliação é de Angella Mochel, gerente da Agência do Trabalho, órgão do governo de Pernambuco. Segundo ela, o problema também foi verificado nos processos de seleção do Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural (Prominp) realizados no Estado. Por causa disso, o governo estadual decidiu introduzir a disciplina de raciocínio lógico na grade escolar do ensino médio.