Título: Ritmo de expansão chinês da atividade ficou para trás
Autor: Lamucci, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 02/06/2010, Brasil, p. A3

de São Paulo

A temporada de indicadores econômicos com crescimento chinês ficou para trás. A realidade do segundo trimestre mostra uma moderação do ritmo da atividade econômica, embora não um tranco. Em abril, a produção industrial recuou 0,7% em relação ao mês anterior, feito o ajuste sazonal, uma queda até menor do que o 1% esperado pelos analistas, e que se deu sobre uma base mais forte - o resultado de março foi revisado de uma alta de 2,8% para 3,4%. O fim da vigência do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) reduzido para veículos e eletrodomésticos e a própria acomodação do crescimento, após a forte recuperação a partir do segundo trimestre de 2009, ajudam a explicar a atividade mais fraca a partir de abril. O ritmo mais lento também aparece em alguns indicadores de maio, como as vendas de veículos.

A queda da produção industrial em abril foi puxada pelo recuo de 0,8% dos bens semi e não duráveis, como destaca o economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges. O destaque negativo foi o tombo de 10,9% do setor de bebidas, que se deu depois de uma expansão forte no mês anterior, de 7,8%. A retração de 1,7% da produção de veículos automotores - influenciada pelo fim dos incentivos fiscais para o setor - também contribuiu para o resultado negativo. A contração também ocorreu após uma alta forte em março, de 10,6%.

Entre os 76 subsetores industriais, 49% tiveram alta em abril na comparação com o mês anterior, o menor percentual desde março de 2009, destaca o Credit Suisse. Em março, eram 83%. "O resultado de abril reforçou a nossa leitura de que o ritmo de crescimento da produção industrial nos próximos meses será menor do que o apresentado no período da recuperação da crise, entre o segundo trimestre de 2009 e o primeiro trimestre de 2010", dizem os economistas do Credit Suisse. "É muito mais fácil a atividade se recuperar do que crescer", resume Borges, lembrando que a produção só voltou ao nível pré-crise em março.

Vários segmentos, porém, tiveram desempenho positivo em abril. A produção de bens de capital subiu 2,4% em relação a março, um sinal de que o investimento continua forte. A fabricação de bens intermediários (insumos) aumentou 0,4%. De janeiro a abril, a indústria teve alta de 18% sobre igual período de 2009.

O economista Paulo Miguel, da Quest Investimentos, diz que a perda de força no segundo trimestre era esperada. De janeiro a março, houve uma combinação de fatores que levaram a um crescimento muito intenso, que não deve ser visto no resto do ano. O fim do IPI reduzido para bens duráveis era iminente, os juros estavam muito baixos, a oferta de crédito era ampla e os gastos do governo cresceram muito. Isso levou à uma forte alta da produção industrial e das vendas no varejo, que fez o Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre crescer entre 2,3% e 3% sobre o anterior, o que pode atingir mais de 12% anualizados.

Miguel, que projeta alta de 2,6% de janeiro a março, acredita que a evolução nos trimestres seguintes ficará entre 1% e 1,3%. Mesmo com essa moderação, o PIB deverá fechar o ano com alta de 7,5%, estima. Já Borges prevê expansão de 6,2%. Ele diz que o número pode ser elevado se o PIB do primeiro trimestre, a ser divulgado na semana que vem, superar a sua projeção, de 2,3% sobre o trimestre anterior.

Borges ressalta que alguns indicadores de maio confirmam o ritmo mais moderado. Além das vendas de veículos, ele cita a média diária das importações, que recuou 2,1% em relação a abril, feito o ajuste sazonal. As compras externas são muito influenciadas pela produção industrial, lembra ele.

Se os incentivos fiscais acabaram e os juros estão em alta, o mercado de trabalho continua forte, diz Miguel. Emprego e renda em alta seguirão como um motor importante para o crescimento, impedindo uma desaceleração abrupta. Nesse quadro a queda em abril da produção de bens semi e não duráveis seria uma exceção, pois são muito ligados à renda, diz o economista Rogério César Souza, do Instituto para Estudos do Desenvolvimento Industrial (Iedi). Borges nota ainda que o cenário segue favorável para a construção civil, segmento em que, segundo ele, não há sinais de desaceleração. (Colaborou Samantha Maia)