Título: Favorito na Colômbia, Santos propõe trégua a Chávez
Autor: Acosta, Luis Jaime
Fonte: Valor Econômico, 02/06/2010, Internacional, p. A11
Reuters, de Bogotá
O candidato Juan Manuel Santos, favorito a chegar à Presidência da Colômbia, propôs ao presidente da Venezuela, Hugo Chávez, recompor os laços entre os dois países. Essa seria uma das metas de seu eventual governo.
No que pode ser interpretada como uma bandeira da paz, logo após Chávez ter previsto uma relação catastrófica com Santos, o colombiano propôs um respeito mútuo de ideias e a retomada dos vínculos econômicos entre os dois países, que chegaram a ser principais parceiros comerciais.
O candidato governista anunciou ainda a intenção de fazer da Colômbia um importante ator na esfera internacional, como México e Chile, e de reduzir a dependência econômica em relação aos EUA na questão da segurança.
"É possível ter algumas diferenças muito radicais sobre a forma de pensar e conceber o que é a democracia e o que é um modelo de desenvolvimento, mas se nós respeitarmos essas diferenças [...] podemos ter relações magníficas e ter um bom comércio e ter boa cooperação na fronteira", disse Santos, de 58 anos, em entrevista à agência Reuters na segunda-feira à noite.
"Aspiro a isso porque nós não vamos concordar em muitas coisas, mas podemos concordar em respeitar as diferenças", ressaltou ele, referindo-se a Chávez.
Chávez disse recentemente que o possível triunfo de Santos representa uma ameaça que pode desencadear uma guerra na região. E acusou o colombiano de "mafioso" e de estar a serviço dos EUA, governo que, segundo o venezuelano, planeja derrubar o seu governo.
A crise entre Bogotá e Caracas, considerada a pior na história recente, agravou-se em julho de 2009, quando Chávez ordenou congelar as relações comerciais e diplomáticas, em retaliação à assinatura de um acordo militar entre o presidente colombiano, Álvaro Uribe, e Washington, o que Chávez considera uma ameaça a seu país.
Como ministro da Defesa, Santos, um economista com estudos nos EUA e no Reino Unido, conseguiu desferir golpes contundentes contra a guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), incluindo a morte de um importante líder rebelde no Equador, pelo que enfrenta processo criminal nesse país.
As constantes críticas de Chávez contra a candidatura de Santos, vistas por Bogotá como intromissão em assuntos internos, não diminuíram apoio ao governista nas urnas. Santos obteve 46,56% dos votos no primeiro turno, no domingo, contra 21,49% de Mockus. O segundo turno será no dia 20.
Santos, do Partido de la U, disse que, se ganhar a Presidência, como preveem analistas, procurará fazer com que a Colômbia tenha um papel mais ativo internacionalmente, como México e Chile. Ele quer ingressar na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan, a aliança militar ocidental) e na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE, associação de países ricos) e deixar de ser um simples receptor de ajuda militar dos EUA.
"Queremos introduzir-nos mais na Otan, na OCDE, como está o México, como está o Chile, ser participantes mais importantes no cenário mundial, porque acredito que as circunstâncias já estão dadas."
"Podemos ser muito mais pró-ativos. Essa posição de ser um simples país no setor de ajuda frente aos EUA e todos os anos ir com o chapeuzinho para ver quanto nos dão, acredito que já está na hora de mudar isso", acrescentou.
Os EUA são o principal aliado da Colômbia na luta contra o narcotráfico e a guerrilha esquerdista. Desde 2000, Washington deu a Bogotá mais de US$ 6 bilhões em assistência militar e social para a fumigação e erradicação de cultivos.
"Que os EUA entendam que somos um país amigo, que somos um sócio estratégico e que podemos ajudar em muitas coisas que eles, inclusive, já estão pedindo", disse a respeito da cooperação contra o tráfico na América Central e Caribe, assim como sobre o envio de soldados ao Afeganistão.
Membro de uma família aristocrática, ligada à política e ao jornalismo, Santos prometeu a manter as principais políticas de Uribe, incluindo a luta contra a guerrilha e o narcotráfico, mas insiste numa maior ênfase social, para combater o desemprego e a pobreza.
Ele é favorável ao livre mercado e a políticas pró-negócios, e rejeita elevar impostos ou fazer nova reforma tributária. "Se a economia continuar crescendo como vem crescendo nestes cinco últimos meses, os recursos tributários aumentarão consideravelmente. Isso de fazer reformas tributárias a cada dois anos é inconveniente, é mudar as regras do jogo, os investidores não gostam disso", afirmou.
Santos admite vender a geradora de energia elétrica Isagen, o que Uribe postergou, para levantar ao menos US$ 1,5 bilhão, recursos previstos no orçamento de 2010.
"Por princípio, não gosto de vender ativos do Estado para tapar buracos fiscais. Mas, se o retorno para a sociedade for melhor (...), não teria problema algum em vender", disse. O governo federal tem déficit fiscal de 4,2% do PIB.