Título: Apoio de Lula equilibra erros da campanha
Autor: Junqueira, Caio
Fonte: Valor Econômico, 11/06/2010, Política, p. A8

A convenção do PT marcada para o domingo de manhã no Unique Palace, em Brasília, que oficializará a candidata do partido a presidente vai apresentar uma Dilma Rousseff muito diferente daquela que compareceu ao Congresso Nacional da legenda. Em fevereiro, quando Dilma lançou sua pré-candidatura, ela ainda era uma política desconhecida de grande parte da população brasileira. Estava ali pela escolha pessoal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e tinha menos de 30% das intenções de voto segundo todos institutos de pesquisa, atrás do líder José Serra (PSDB).

A petista que discursará no domingo, quatro meses depois do Congresso Nacional da legenda, tem 37% das intenções de voto e está empatada com o adversário do PSDB. O salto é fruto de uma estratégia que envolveu, principalmente, o apoio incondicional do presidente Lula, que chamou-a a eventos públicos em sua companhia e fez sua propaganda, bem como encontros com empresários, participações em festas populares, entrevistas para rádios do interior brasileiro, e, no fecho do período, a propaganda partidária do PT pela TV, que apresentou a imagem de Dilma fundida à de Lula.

A campanha de Dilma cometeu erros no período, frustrando os políticos que imaginavam que ela ultrapassaria seu adversário já em março. Dilma viajou para o Ceará sem avisar o então candidato à presidência pelo PSB, Ciro Gomes, fato considerado profundamente deselegante pelos pessebistas. Também afirmou, em Minas, não ver problemas no voto "Anastadilma" (Anastasia para governador e Dilma para presidente). Nova gafe, pois Antonio Anastasia é apoiado pelo tucano Aécio Neves, e a declaração irritou o principal candidato da aliança lulista, Hélio Costa (PMDB). E ainda se envolveu num escândalo, por ser a candidata e portanto responsável legal pela campanha, de espionagem e fabricação de um suposto dossiê e de grampos telefônicos instalados em uma das sedes da campanha petista.

Mas o PT conseguiu sacramentae algo que parecia impossível: uma aliança formal com o PMDB, que dará à sua candidata mais 5 minutos na propaganda eleitoral gratuita da TV. Em 2002, quando Lula foi eleito pela primeira vez derrotando o candidato do PSDB, José Serra, tinha uma pemedebista como vice: a deputada Rita Camata (ES). Mas o partido não estava completamente unido - o senador José Sarney (PMDB-AP), por exemplo, declarou voto em Lula explicitamente após a saída de sua filha, Roseana, da disputa presidencial.

Amanhã, os pemedebistas realizam sua convenção nacional na qual será votada a coligação formal com os petistas e a indicação de Michel Temer para vice-presidente. Temer é presidente da legenda e conseguiu unificar a maior parte do partido em torno da aliança.

Ainda faltam alguns acordos regionais em aberto, muitos dos quais serão deliberados pelo Diretório Nacional do PT hoje.

Para o presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra (SE), o evento de domingo será uma grande festa, já que todas as negociações políticas aconteceram antes. O PT conseguiu levar o PSB para a aliança, forçando a legenda a abrir mão da candidatura de Ciro Gomes (CE). Também acertou a coligação com o PDT (Dilma vai a São Paulo amanhã especialmente para participar da convenção do partido), PCdoB e PR. Ainda negocia com PP e PRB e praticamente descarta PTB, que pode coligar-se com José Serra.

No domingo, Dilma fará um discurso com algumas promessas para o futuro. Depois, alterna duas semanas de viagens: na primeira, o roteiro será internacional, com França, Espanha e Portugal, para fazer gravações com chefes de Estado para o programa eleitoral. No segundo, nacional, pelo roteiro das festas juninas da Paraíba, Pernambuco e Sergipe. A estratégia do comando da campanha continuar sendo a de manter a candidata mais retraída, não exposta a debates ou entrevistas que saiam do controle.