Título: Marina aposta em biografia e discurso de renovação
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 11/06/2010, Política, p. A8
O lançamento da campanha da candidata a presidente pelo PV, Marina Silva, apontou os prováveis três eixos de atuação de sua campanha eleitoral. O pessoal, com ênfase em sua biografia, vai explorar a transformação de uma jovem e doente analfabeta acreana em um dos ícones do ambientalismo mundial. O político, com o discurso de reconhecimento de acertos dos governos dos presidentes Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e reavaliação de seus erros, além da exaltação de "uma nova forma de fazer política" - sem "corrupção, barganhas ou loteamento de cargos". E o programático, por meio da conciliação entre a formação de uma economia sustentável com fortes investimentos em educação.
Foi nesse tripé que se sustentaram os discursos das principais lideranças do PV na tarde de ontem, a começar por Marina, que mencionou o nome de Lula e FHC para prever que, após o governo de um "sociólogo bem sucedido filho da Cátedra" e de "um operário tenaz que alimentou sonhos por mais de duas décadas", chegara a hora de o Brasil eleger "a primeira mulher negra de origem pobre presidente da República".
Dos governos do tucano e do petista, mencionou os benefícios do Plano Real e da redução da desigualdade social, mas para em seguida abrir caminho para a necessidade de "olhar para trás para aprender com erros e consolidar as conquistas" e "para a frente para não repetir os erros e conquistar o que não foi possível". Nessa linha, destacam-se quatro consequências de erros passados das administrações no país: desigualdade de oportunidades, estagnação da qualidade de ensino, dilapidação do patrimônio natural e ampliação do caos urbano.
A partir desses quatro pontos, o partido apresentou os principais instrumentos para solucioná-los: a "oferta de educação básica de qualidade para todos, formação técnica e científica sólida desde os primeiros estágios da escola, capacitação para a pesquisa e a inovação como o pão cotidiano para nossas crianças e jovens". Esses itens estão previstos nas diretrizes de seu programa, distribuído ontem em um caderno intitulado "Juntos pelo Brasil que queremos".
Mas é no meio para se atingir esses fins que Marina e seu partido tentarão cravar seu maior diferencial em relação às duas candidaturas favoritas, de Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB). Avessa às coligações já em andamento tanto da petista quanto do tucano, ela disse em seu discurso ser favorável a consolidação de uma aliança "com a sociedade". "As pessoas têm me perguntado por que não temos política de alianças. Dizem que quem tem mais palanque tem mais chance. Parece que fizeram um acordo para dizer: "Fiquem em casa durante a campanha e no dia 3 de outubro saiam e votem em quem mandarmos". Com a gente não é assim. Queremos alianças com os núcleos vivos da sociedade. Jovens, empresários, mulheres, negros, índios", afirmou.
Antes dela, seu candidato a vice, o empresário Guilherme Leal, um dos acionistas majoritários na empresa de cosméticos Natura, também criticou a política atual. "Por que o Brasil precisa de Marina? Porque a lógica da política que prevalece no país está ancorada em lotear, distribuir espaços de poder entre forças econômicas e políticas. Porque a força econômica governa a política e a atual forma de fazer política afastou da política o cidadão. (...) Os escândalos de corrupção permeiam os espaços da política nacional", disse o empresário, que por mais de uma vez teve de interromper seu discurso por não conseguir acompanhar o teleprompter. Acabou segurando os papéis com o texto dos discursos nas mãos.
Sobre sua inabilidade com o mecanismo, Marina iniciou seu discurso dizendo que "essa sua falta de jeito com a política só aumenta nosso respeito pelo que tu és" e que "quando um empresário é muito tinhoso com a política é porque já está há muito tempo" o que sinaliza que faz política "sub-reptícia". Antes deles, discursaram o teólogo Leonardo Boff e o deputado Fernando Gabeira (PV-SP). No palanque também estava presente o deputado Zequinha Sarney (PV-MA). (CJ)