Título: Raymundo Costa e Raquel Ulhôa, de Brasília
Autor: Costa , Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 11/06/2010, Política, p. A10

O PSDB aposta na "verticalização espontânea" da campanha eleitoral para equilibrar a eleição e eleger José Serra como o próximo inquilino do Palácio do Planalto. O tucano será indicado para a disputa neste sábado, em convenção partidária a ser realizada em Salvador (BA). É a segunda vez que Serra disputa o cargo para o qual diz ter se preparado a vida toda. A situação do PSDB já foi melhor nas pesquisas e o tucano chega à convenção com um acúmulo de demandas.

Serra demorou a assumir a candidatura. Em março, o PSDB previa palanques fortes no Sul do país, onde as pesquisas indicam que o tucano é mais forte. Por enquanto, certo mesmo só o palanque da governadora Yeda Crusius (RS) e do ex-prefeito de Curitiba Beto Richa, candidato ao governo do Paraná, até agora, sem a esperada aliança com Álvaro Dias, candidato do PDT. O palanque tríplice de Santa Catarina (PSDB-DEM-PMDB) caiu, mais um revés para o candidato. As pesquisas também indicam que Dilma Rousseff, a candidata do PT, avançou um pouco no Sul.

Serra chega à convenção sem um candidato a vice, discussão que ficou parada enquanto os tucanos aguardavam pelo ex-governador de Minas Aécio Neves. Sem Aécio no páreo, o Democratas acha que seria uma desconsideração do PSDB optar por uma chapa pura. Se não levar a vice, abre uma crise na campanha de Serra. Hoje o nome mais cotado é o do deputado José Carlos Aleluia (DEM-BA). A opção tucana pode ser um de três senadores: Tasso Jereissati (CE), Sérgio Guerra (PE) e Marisa Serrano (MS)

Um exemplo de "verticalização espontânea" que os tucanos detectam em suas pesquisas: em Camaçari, pesquisas revelam que Serra e o candidato do DEM ao governo da Bahia, Paulo Souto, têm exatamente o mesmo porcentual: 29% das preferências. A aposta é que o fenômeno se repita de Minas Gerais a Pernambuco, do Pará ao Rio Grande do Sul, passando pelo Paraná.

Nas contas do PSDB, para vencer a eleição presidencial a vitória de José Serra em São Paulo não pode ser menor que a soma de um esperado resultado negativo em Minas Gerais e no Rio de Janeiro, o segundo e o terceiro maiores colégio eleitorais do país, Estados em que o partido sempre se deu mal desde que Fernando Henrique Cardoso deixou o Palácio do Planalto, já se vão quase oito anos. O caso do Rio é ainda pior: FHC sempre perdeu em seu Estado natal. O simples fato de a conta ser feita revela a extensão do drama tucano.

Em 2002, Serra impôs seu nome como candidato do PSDB e rachou o partido. Agora, bateu Aécio internamente. A desconfiança sobre o empenho do apoio de Aécio, que é muito forte em Minas Gerais, a Serra permeia a cúpula tucana. Ainda assim, o PSDB avalia que se apresenta em situação melhor que nas eleições que disputaram no pós FHC - em 2002, com o próprio Serra, e com Geraldo Alckmin, em 2006. Pelo menos Serra terá palanques em todos os Estados, com o PSDB ou com o Democratas, o que Alckmin não teve na última eleição - marcar eventos no Estado, onde às vezes foi sem contar com a presença do governador, que estava em outra atividade eleitoral. Com exceção do Amazonas.

Serra chega à convenção empatado tecnicamente com Dilma. Após o encontro tucano com DEM e o PPS, os outros dois integrantes da coligação, para a indicação da pré-candidatura, Serra livrou uma vantagem de nove pontos nas pesquisa. A autoestima partidária entrou em alta. Era nesta situação que o PSDB esperava chegar à convenção deste sábado. Não deu. Segundo a última pesquisa divulgada, do instituto Vox Populi, Serra e Dilma Rousseff (PT) estão rigorosamente empatados com 37% cada.

Para tentar mudar essa situação antes do começo do horário eleitoral gratuito, em agosto, os tucanos vão jogar todas suas fichas na propaganda partidária, neste mês de junho. A exposição começou com o programa partidário do Democratas, no rádio e na televisão. Ontem foi a vez do PPS. Mas o PSDB aposta mesmo é nas suas inserções, que serão exibidas a partir do dia 15. Serão 40 comerciais até 27 de junho, divididos em quatro dias espalhados ao longo das próximas semanas. É "Serra na veia", como diz um dirigente partidário.

No dia 17 será o programa partidário de dez minutos, já sem divisão Serra-Aécio que marcou o último programa. Finalmente, no dia 24 o PTB entra no circuito do rádio e televisão. Dividida, a sigla não deve se coligar, mas seu presidente Roberto Jefferson apoia Serra. A estratégia deu certo com Geraldo Alckmin, em 2006, que melhorou seu desempenho nas pesquisas após a enxurrada televisiva. Há na cúpula do PSDB uma expectativa secreta, de alguns de seus integrantes, que Serra possa subir até 12 pontos percentuais.