Título: Crédito à exportação dos emergentes seria afetado
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Fonte: Valor Econômico, 11/06/2010, Finanças, p. C10

A reforma da regulamentação financeira global poderá reduzir o fluxo de financiamento dos bancos internacionais para as economias emergentes, adverte o Instituto Internacional de Finanças (IIF), entidade que congrega os bancos, em sua avaliação publicada ontem em Viena.

O diretor-executivo da entidade, Charles Dallara, enfatizou que, se não houver ajustes na reforma que está sendo discutida pelos governos, o crescimento econômico e desenvolvimento nos mercados emergentes será afetado. Um grande impacto virá através do "trade finance", com menos fluxo e maior custo para o exportador dos emergentes, afirmou um dos autores do relatório, Philip Suttle. O estudo enfatiza também que os sistemas bancários dos emergentes, assim como em geral, serão confrontados com exigências de liquidez que poderão resultar em "significativa alta dos custos de funding".

Mas, ao Valor, o presidente do Itaú Unibanco, Roberto Setubal, que é vice-presidente do IIF, minimizou o impacto dessa alta nos juros no Brasil. "As taxas de mercado flutuam até de forma mais significativa do que esse aumento de custos que estamos falando. Não se trata de uma coisa significativa para o Brasil", afirmou. "Além disso, tanto capital como liquidez e alavancagem não devem ter impacto significativo no Brasil porque [o país] já vinha adotando medidas até mais conservadoras do que as que vêm sendo discutidas".

O IIF não fez o mesmo estudo quantitativo do custo da regulação sobre os emergentes, como fizera com as economias desenvolvidas, e sua avaliação é mais "qualitativa". Os ativos do setor bancário dos emergentes alcançou US$ 20,6 trilhões no fim de 2009, sendo 174% a mais do que o tamanho do sistema bancário dos EUA e cerca de 145% do PIB combinado dessas economias. A China domina, com ativos bancários de US$ 12,5 trilhões. Os bancos brasileiros aumentaram seus ativos para US$ 1,5 trilhão, enquanto os da Coreia do Sul e da Índia ficam em US$ 1,4 trilhão.

Para o IIF, o estágio de desenvolvimento financeiro apresenta aos bancos e reguladores nos emergentes um desafio maior: a necessidade de permitir rápidas taxas de crescimento do crédito para promover desenvolvimento e ao mesmo tempo manter regulação robusta e estável.

Em termos de efeito direto da reforma regulatória nos emergentes, a entidade nota que os bancos estão bem capitalizados, como no Brasil. E uma alta de exigência de mais capital de 2 pontos percentuais não terá peso significativo sobre eles. Talvez a maior preocupação sobre o novo regime de capital seja o impacto envolvendo a composição de capital e a possibilidade de que enormes montantes do que é agora contabilizado como "Tier 1" sejam excluídos no futuro.

Os efeitos indiretos são, de fato, os que trarão mais problemas. A entidade avalia que financiamentos dos bancos de países desenvolvidos aos mercados emergentes serão afetados pelos encargos maiores de capital, como no caso do financiamento ao comércio exterior. Outro impacto indireto é que, com a diferença de juros entre economias desenvolvidas e emergentes, o fluxo de recursos para regiões produtoras de commodities pode ter um peso especulativo forte, com suas consequências sobre a valorização da moeda.

O IIF resume ainda uma pesquisa com grandes bancos dos emergentes, que admitem um impacto "modesto" com a reforma regulatória. Mas esperam um endurecimento nas condições de crédito na economia local.