Título: Ajuste de liquidez de bancos será de US$ 5,4 tri
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Fonte: Valor Econômico, 11/06/2010, Finanças, p. C10

Os bancos dos Estados Unidos, Europa e Japão precisarão aumentar o patrimônio líquido em US$ 700 bilhões e fazer emissões de US$ 5,4 trilhões de dívidas de longo prazo ao longo de cinco anos, para cumprir exigências de capital e liquidez que provavelmente farão parte da nova regulação global.

A estimativa foi apresentada ontem por um grupo de grandes banqueiros internacionais, seguida de uma mensagem clara: a fatura para prevenir futuras crises financeiras globais terminará sendo paga pelos clientes, por menor crescimento econômico e perda de 9,6 milhões de empregos.

"O custo que os bancos pagam para levantar capital impacta no custo do crédito para os clientes, o que por sua vez influencia a escala de crédito para a economia", afirmou o presidente do Deutsche Bank, Josef Ackermann. "Algumas medidas propostas exigem que os bancos cortem ativos, o que reduziria o volume de créditos que eles podem fornecer à economia, e isso terá um custo macroeconômico".

Como o Valor antecipou, os bancos jogaram pesado no cálculo do impacto negativo significativo sobre a economia, na direção oposta das projeções de custo modesto feitas pelo Banco Internacional de Compensações (BIS). Os banqueiros estimam que nos EUA a contração seria de 0,5% no PIB por ano e quase o dobro (0,9%) na zona do euro. Em cinco anos, a contração média acumulada seria de 3%, incluindo o Japão. Nesse cenário, 9,7 milhões de empregos deixariam de ser criados, os governos arrecadariam menos e o desastre estaria garantido.

O cenário do IIF supõe que o capital próprio mínimo, hoje equivalente a 8% do total de ativos, passaria para até 10%. O "Tier 1" , equivalente a 4% dos ativos ponderados pelo risco, poderia aumentar para 6% e consistiria predominantemente de patrimônio líquido e retenção de ganhos. Um novo "colchão" de capital poderia representar 1% adicional do capital total.

A imposição de controle regulatório mais duro nos primeiros cinco anos exigiria dos bancos dos EUA aumentar seu patrimônio líquido em US$ 250 bilhões, mas a fatura sobe com os custos de funding e outros encargos.

Nos 16 países da zona do euro, haverá a maior necessidade de emissão de dívida para capitalização, de quase US$ 4,5 trilhões em cinco anos. A expectativa é que para se endividar mais os bancos terão de pagar spread maior.

Conforme Ackermann, o impacto será maior na Europa porque é onde os bancos representam 75% do financiamento na economia. No Japão, o percentual é de 50% e nos EUA apenas 25% do total dos créditos na economia.

Os banqueiros dizem aceitar a reforma da regulação, responsabilidade dos bancos na crise, mas insistem na necessidade de levar em conta todos os impactos na economia, "que ainda está com a recuperação claramente em risco", conforme William Rhodes, do Citibank. "Altos níveis de desemprego estão alimentando pressões por protecionismo financeiro e comercial", acrescentou.

O presidente do HSBC, Stephen Green, reclamou que o próprio conceito de capital que está sendo usado nas discussões é muito limitado e terá impacto significativo no montante de dinheiro que os bancos precisarão, com impacto na economia real.

Exemplificou que as exigências de liquidez, e "colchão" adicional de capital, podem distorcer o mercado e causar "concentração indevida nos bônus soberanos", estando assim, segundo ele, longe da "realidade dos mercados".

Os banqueiros claramente não acreditam que a reforma será implementada no início de 2013, como está previsto. Peter Sands, presidente do Standard Chartered, insistiu que a "rápida implementação" das propostas do Comitê de Basileia seria especialmente problemático. "Não estamos argumentando contra a reforma regulatória. Apoiamos muita coisa do Comitê de Basileia. Mas há um preço para fazer o sistema bancário mais seguro e mais estável, e o preço será inevitavelmente suportado pela economia real", acrescentou.