Título: Alckmin diz que Serra anda sem garupa em SP
Autor: Lima , Vandson
Fonte: Valor Econômico, 14/06/2010, Política, p. A5

Cobrado nas últimas semanas pela atuação discreta na busca de votos para José Serra (PSDB) nas eleições presidenciais, Geraldo Alckmin (PSDB) fez ontem, no lançamento de sua candidatura ao governo de São Paulo, um discurso de reverência ao companheiro tucano: "Vamos levar Serra à Presidência. Porque ele anda com as próprias pernas. Quem quer dirigir o Brasil não pode andar na garupa". O evento, realizado no estacionamento da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), reuniu cerca de 10 mil pessoas, segundo cálculos da militância tucana.

Nos cerca de 40 minutos em que discursou, Alckmin, que terminou a sua fala rouco, citou o nome de Serra 16 vezes. Afirmou que será um soldado de sua campanha e usou o bordão "O Brasil pode mais", da campanha serrista, em diversas passagens. Pregou a continuidade do PSDB no comando de São Paulo, o que já ocorre há 16 anos.

Antes, José Serra já havia entoado discurso parecido, tecendo elogios à administração de Alckmin: "Só pudemos fazer o que fizemos porque Alckmin deixou a casa arrumada. Agora é continuidade na mudança, conforme avançamos, mudam as demandas". Serra afirmou ainda que a sua administração se pautou por beneficiar municípios "independentemente da cor da camisa partidária". "Temos registros de todos os prefeitos dos Estados reconhecendo o que fizemos", disse o candidato à Presidência.

"Fique tranquilo, Serra, que o Geraldo comandará a sua campanha no Estado", bradou Guilherme Afif Domingos (DEM), que será o vice na chapa de Alckmin, muito aplaudido pela militância tucana. O prefeito da capital, Gilberto Kassab (DEM), disse que Alckmin dará continuidade ao governo de Serra. Aloysio Nunes (PSDB), candidato ao Senado, pediu que as siglas que compõem a aliança governista no Estado (PSDB, DEM, PPS, PMDB, PSC, PHS e PMN) se misturem, atuando como uma só.

O ex-governador de São Paulo e candidato ao Senado, Orestes Quércia (PMDB), disse estar decepcionado com seus colegas de partido, que firmaram aliança nacional com a candidata do PT, Dilma Rousseff, à Presidência. "Quando olho esses companheiros, não vejo aqueles que estiveram na luta contra o regime autoritário." Atacou ainda a candidata petista: "Ela não tem experiência para lidar com o Congresso, cem senadores, 500 deputados, tudo cobra criada".

O evento, aberto ao público, teve ainda estandes montados por deputados federais e estaduais. Neles, o objetivo do partido, normalmente acusado de ser elitista, era divertir a massa. Rodas de samba, capoeira e até a distribuição de "vuvuzelas", as cornetas usadas na Copa do Mundo, na África do Sul. Um estande intitulado "Diversidade PSDB" trazia uma "drag queen", mas o espaço mais inusitado foi montado pelo deputado Walter Ihoshi (DEM). Defensor de políticas voltadas para a juventude, Ihoshi trouxe jovens nipo-brasileiros caracterizados como personagens de desenhos animados, os chamados "cosplayers".

Neste fim de semana de formalização de candidaturas e apoios, o PDT também confirmou no sábado o apoio da legenda à candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, e ao nome do partido para o governo de São Paulo, Aloizio Mercadante. Ambos participaram do evento do PDT.

Porém, o apoio à candidatura de Mercadante ao governo do Estado ainda tem um obstáculo pela frente: ela depende de indicação do vice da chapa. Segundo o deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força (PDT), essa definição acontecerá na reunião da Executiva Estadual do PDT, marcada para 23 de junho, um dia antes da Convenção Estadual do PT.

Seguem no páreo a vice, o deputado estadual Major Olímpio, cujo nome enfrenta resistência dentro do próprio PDT, e o ex-prefeito de São José do Rio Preto (SP), Manoel Antunes, que tem o aval de Carlos Lupi, ministro do Trabalho e Emprego e presidente nacional do PDT. Para Lupi, Olímpio é um nome novo dentro do PDT, egresso do PV no fim do ano passado. Por outro lado, Antunes não empolga o PT, que vê Olímpio mais como um opositor mais forte ao PSDB.

A espera do PDT em confirmar o apoio a Mercadante em São Paulo se deve também ao fato o PT ainda trabalhar com a hipótese de lançar uma chapa pura, com o senador Eduardo Suplicy como vice. Os pedetistas já avisaram que, nesse desenho, devem abandonar a aliança no Estado. Porém, a expectativa do PT é que uma eventual nova composição de chapa possa ser negociada sem gerar a saída do PDT.

Em seu discurso durante a convenção do PDT, Mercadante afirmou que, caso eleito, suas prioridades serão a segurança pública, a educação e a interiorização do desenvolvimento econômico. Também não deixou de lado críticas a Alckmin: "Mercadante é o caminho, Alckmin é o pedágio", disse em referência aos programas de concessões rodoviárias tocadas pelo PSDB.