Título: Impasse minimizado
Autor: Iunes, Ivan; Rizzo, Alana
Fonte: Correio Braziliense, 01/07/2010, Política, p. 2

Embora reconheçam que Índio da Costa é um nome de pouca expressividade nacional, integrantes do DEM e do PSDB celebram o fim da novela

Voz dissonante dentro da aliança, Roberto Jefferson (PTB) definiu a pressão do DEM como ¿oportunismo¿

As reações à escolha de Índio da Costa (DEM-RJ) como vice de José Serra (PSDB) foram de alívio pela solução do impasse entre PSDB e DEM. Os aliados estavam em crise depois que os tucanos chegaram a anunciar uma chapa puro-sangue com o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) no segundo posto. Reuniões intermináveis pela madrugada e até a ameaça de abandono da campanha de Serra por parlamentares do DEM, contudo, pressionaram por modificações na escolha. Ainda assim, aliados como Roberto Jefferson (PTB-RJ) criticaram a opção por Índio. A repercussão geral na aliança, no entanto, teve saldo positivo.

Assim como o anúncio precipitado da escolha por Dias, na semana passada, muitos aliados escolheram o Twitter para se manifestar. ¿Foi oportunismo do DEM forçar a vice. Quis lavar a cara no prestígio de Serra¿, escreveu Jefferson. Indagado ainda no Senado Federal sobre a escolha por Índio, Dias mostrou desconhecer o currículo do aliado. ¿Não sei quem é e por isso não vou me posicionar ainda¿, chegou a anunciar o senador. Informado pela assessoria, minutos depois elogiou o deputado fluminense pela rede virtual: ¿Parabéns pela brilhante atuação a favor do projeto Ficha Limpa aprovado pelo Congresso. Seu trabalho foi decisivo.¿

Incêndio Aliado de Serra, o presidente do PPS, Roberto Freire, preferiu ressaltar o fim da crise no ninho tucano. ¿O Álvaro acabou não se viabilizando por problemas no Paraná e isso ajudou na resolução do impasse, mas não acho que chegou a ser um incêndio na campanha¿, minimizou Freire. A principal restrição a Ìndio pelos partidos aliados a Serra acabou sendo o fato de o deputado federal ser pouco conhecido fora do Rio de Janeiro. O vice-presidente do DEM, ACM Neto, ponderou que não havia outra alternativa mais ¿conhecida¿ do que o parlamentar fluminense. ¿Desconhecido qualquer um seria, exceto o Aécio Neves¿, opinou. O senador potiguar José Agripino Maia (DEM) ressaltou que, com Índio, a chapa de Serra seria uma aliança com ¿cara limpa e ficha limpa¿.

O próprio candidato tucano comemorou o fim da novela. ¿Tendo um vice vou ter mais tempo de responder o que eu vou fazer pelo Brasil, em vez de ficar respondendo todos os dias questões sobre vice¿, brincou Serra.

A oposição também repercutiu a escolha de Índio como parceiro de Serra. Assessor de Assuntos Internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia ironizou a tentativa do DEM de colar a imagem da legenda à do projeto Ficha Limpa. ¿O DEM vai ficar numa situação um pouco complexa, porque, se de um lado ele capitaliza (o Ficha Limpa), está cheio de fichas suja¿, afirmou Garcia.

Colaborou Isabel Fleck

PSC OFICIALIZA APOIO A DILMA O PSC confirmou ontem o apoio a Dilma Rousseff na corrida pela Presidência da República. Com isso, a candidata do PT, que já contava com 9 minutos e 58 segundos de tempo na propaganda eleitoral gratuita no rádio e na TV, passará a ter 10 minutos e 50 segundos por inserção. Com a conquista do PSC, a campanha de Dilma neutraliza a perda do PP, que decidiu não se coligar com ninguém. A direção do PSC, que originalmente apoiaria Serra, deu dois motivos para mudar de lado: a decisão da maioria dos deputados por uma aliança com Dilma e o fato de o nome do partido que foi ofertado para a vice de Serra, o senador Mão Santa (PI), nem ter sido levado em consideração pelo tucano.

Álvaro, o ¿órfão¿

Ullisses Campbell

São Paulo ¿ O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) durou cinco dias no posto de candidato a vice-presidente. Escolhido na sexta, foi deposto à força da função. Quando ¿vazou¿ que o PSDB havia escolhido seu nome, ele mesmo se encarregou de telefonar para amigos e correligionários do Paraná contando a novidade. Ao atropelar o anúncio oficial, experimentou a fúria do Democratas, que insistiu em indicar um nome sob ameaça de deixar a coligação que pretende eleger Serra.

Na ânsia de se tornar vice, Álvaro Dias não consultou nem o irmão, o senador Osmar Dias (PDT), seu fiel escudeiro. Pego de surpresa com a informação, o pedetista pensou até em desistir de se aliar a Dilma Rousseff (PT) no Paraná. ¿Se ele tivesse me perguntado, teria dito para ele não aceitar¿, disse Osmar a correligionários. Na época, Álvaro afirmou que foi convocado pelo PSDB e que o convite era ¿irrecusável¿. Osmar manteve a aliança com o PT e o PSDB resolveu unir o útil ao necessário: desconvidou Álvaro e cedeu às pressões do DEM.

¿Não há lugar para ressentimentos, não há lugar para postulações. O importante é o projeto de nação liderado pela competência política e administrativa de José Serra¿, pregou Álvaro Dias. Ao Correio¸ disse que nunca havia se sentido vice e que foi o primeiro a pôr a indicação à disposição do PSDB. E culpou o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB), que postou em primeira mão um comentário no Twitter indicando que o PSDB havia optado pelo nome de Álvaro. Ontem, publicamente, o senador dizia que estava satisfeito. Para amigos próximos, não conseguia esconder o descontentamento com o vexame público. Quem sugeriu que ele fosse defenestrado foi o presidente de honra do PSDB, Fernando Henrique Cardoso. O presidente nacional da legenda, Sérgio Guerra, foi o primeiro a ligar para Álvaro.