Título: Pajelança do DEM emplaca Índio. Quem?
Autor: Iunes, Ivan; Rizzo, Alana
Fonte: Correio Braziliense, 01/07/2010, Política, p. 2

Desconhecido do eleitorado e de muitos políticos, deputado federal de ação discreta será o vice de Serra. Decisão representa vitória do Democratas no cabo de guerra com o PSDB

Convencido ontem, Serra definiu o parceiro de chapa como um nome que contribui com juventude e renovação política para a campanha

Deputado federal conhecido apenas no seu estado natal, o Rio de Janeiro, Índio da Costa (DEM) ultrapassou nomes mais fortes e, em uma articulação relâmpago, saiu do ostracismo para a vice de José Serra (PSDB) em um espaço de 10 horas. A interrogação que pairava sobre o parceiro de chapa do tucano tinha como solução mais próxima a opção pelo senador Álvaro Dias (PSDB-PR). O tabuleiro eleitoral no Paraná, contudo, zerou o jogo na madrugada de ontem. O presidente do DEM, Rodrigo Maia, e o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, voaram para a capital paulista às 2h para reiniciar as negociações com os tucanos Serra e Sérgio Guerra, presidente da legenda. O desfecho se deu no final da manhã.

Azarão, o nome de Índio surgiu durante o primeiro encontro, ainda de madrugada, ao lado dos nomes de Gustavo Fruet (PSDB-PR) e Valéria Pires Franco (DEM-PA). A reunião foi suspensa às 6h, para ser retomada na hora do almoço. Às 14h, o deputado fluminense viu o telefone tocar no estacionamento de um hotel no centro de Brasília, endereço da convenção nacional do DEM. Era Serra confirmando a escolha. ¿Foi uma enorme surpresa para mim, tanto quanto para vocês. Darei o meu melhor, estudarei bastante o Brasil. O Rio de Janeiro já conheço¿, disse Índio, minutos depois de ser proclamado vice.

Até então, Índio era conhecido somente no Rio de Janeiro, cidade que o elegeu vereador por três vezes, em 1996, 2000 e 2004. Pelas mãos do ex-prefeito carioca César Maia, o advogado entrou na política, ocupando a subprefeitura de Copacabana e a Secretaria de Administração do município. As nomeações foram fruto das relações entre Maia e o pai de Índio, Luiz Eduardo da Costa, dono de um dos escritórios de arquitetura mais badalados da cidade, que planejou as Vilas Olímpicas utilizadas no Pan do Rio, os quiosques da orla e o Pier Mauá. Alguns desses contratos foram colocados sob suspeita pelo Ministério Público Estadual.

Merenda A passagem pela secretaria municipal também foi polêmica, com investigações sobre o superfaturamento e fraudes nas licitações para compra de merendas escolares. O relatório da CPI elaborado pela vereadora tucana Andréia Gouvêia responsabilizava Índio pelas irregularidades. Durante as investigações no Legislativo, o então vereador do DEM chegou a ser acusado pelos colegas de atrapalhar as apurações. O MP arquivou as denúncias em 2008. Eleito deputado federal em 2006, com 91.538 votos, Índio declarou bens de R$ 315.730,49, que incluíam um apartamento no Leblon, cotas de um clube esportivo, ações e um carro importado Volvo. Em Brasília, divide apartamento com o líder do DEM na Câmara, Paulo Bornhausen (SC). Também é muito ligado ao presidente da legenda, Rodrigo Maia, companheiro assíduo na noite carioca.

Durante os três anos em que esteve no Congresso, Índio teve um mandato obscuro. Aprovou o Dia Nacional do Samba e relatou o Estatuto da Metrópole. Não figurava entre os 100 mais influentes do parlamento, segundo o Departamento de Assessoria Intersindical (Diap). O deputado fluminense saiu das sombras ao receber a relatoria do projeto Ficha Limpa, no início do ano. O texto elaborado pelo parlamentar não encontrou consenso e teve de ser reescrito por José Eduardo Cardozo (PT-SP) ¿ depois, acabou suavizado no Senado por Francisco Dornelles (PP-RJ), outro cotado para a vice de Serra. Aprovado em plenário, o DEM trabalhou para emplacar Índio como um dos progenitores da matéria. A estratégia era limpar a imagem do partido, alvejado pelas denúncias do mensalão no Distrito Federal.

A atuação no relatório da lei que proíbe a candidatura de políticos condenados pela Justiça foi uma das principais credenciais eleitorais que abriu as portas da vice de Serra. A outra foi a situação dramática da chapa tucana no Rio de Janeiro. A aliança no estado é encabeçada por Fernando Gabeira (PV). Como o deputado verde apoia Marina Silva (PV) para a Presidência, Serra estava sem palanque oficial no terceiro maior colégio eleitoral do país. Somando as credenciais, o tucano decidiu apostar em Índio. ¿Ele teve atuação importante em um projeto que abriu novas perspectivas na política brasileira, além de pertencer a um estado importante, como é o Rio de Janeiro. É um nome que traz contribuição naquilo que a política brasileira tem de mais jovem e renovadora¿, exaltou Serra.

A grande reviravolta na escolha do vice, que culminou com a escolha do deputado fluminense, se deu depois que Osmar Dias (PDT) anunciou a candidatura ao governo do Paraná. Então favorito à vice, Álvaro Dias tinha como principal trunfo a saída do irmão do quadro eleitoral no estado. A estratégia deixaria Dilma Rousseff (PT) sem um palanque forte no Paraná e prometia abrir uma frente de 2 milhões de votos para os tucanos na eleição presidencial. O plano e a candidatura de Álvaro naufragaram quando Osmar anunciou que tentaria o governo estadual, qualquer que fosse o rumo político do irmão.

PSOL OFICIALIZA PLÍNIO SAMPAIO » O promotor público aposentado Plínio de Arruda Sampaio, 79 anos, foi oficializado ontem como candidato à Presidência pelo PSol. Em sua plataforma, uma agenda anticapitalista, com bandeiras como a suspensão do pagamento da dívida pública, uma ¿fortíssima¿ redistribuição da riqueza e da renda, reforma agrária com desapropriação de todas as terras com mais de mil hectares, reforma urbana para atacar a especulação imobiliária e redução da jornada de trabalho. Além disso, ele prega o fim das escolas e hospitais privados, que, segundo ele, geram duas classes de pessoas.