Título: Tucano nega pacto com Marina, mas diz que gostaria de herdar seus votos
Autor: Agostine , Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 22/06/2010, Política, p. A7
O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, já se prepara para uma disputa em segundo turno com Dilma Rousseff (PT). Por enquanto, é cauteloso ao dizer que pretende os votos de Marina Silva (PV) na sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ontem, em sabatina promovida pelo jornal "Folha de S.Paulo", o tucano ressaltou que a preocupação com o meio ambiente o aproxima da candidata verde e que isso pode se reverter em votos numa outra etapa da corrida ao Palácio do Planalto.
Apesar disso, Serra descartou a ideia de que haja uma aliança silenciosa entre os dois contra Dilma. "Eu até toparia, mas não tem. Agora eu tenho uma proximidade grande com a área ambiental. Me considero um ambientalista. Mas não há nenhum tipo de entendimento político", disse o tucano, que afirmou que adoraria ser o herdeiro dos votos de Marina. "Mas a decisão não é minha. É dos eleitores", acrescentou.
Durante a sabatina, Serra não demonstrou tensão com as perguntas dos jornalistas, com exceção do momento em que foi confrontado com declarações suas e de seus correligionários com críticas do passado ao Bolsa-Família. Desde que anunciou sua pré-candidatura, o tucano tem defendido a expansão do programa. "É uma pena que você tenha pesquisado e deixado de ver o que o Lula falou. Antes de ser presidente, Lula e o PT chamavam o programa de Bolsa-Esmola", disse, ao rebater o repórter do jornal.
Ao responder sobre a popularidade de Lula e a possível transferência de votos para Dilma, o ex-governador deixou claro que aposta em sua biografia para vencer. "Quem deve julgar isso é o eleitor, que deve julgar a história e não só a biografia familiar, que eu até resisti. Em me refiro à biografia na vida pública, coerência e experiência, o que já fez", explicou.
As palavras do presidenciável reforçam a tese defendida no PSDB de poupar Lula de críticas e insistir na comparação entre a sua trajetória política e da adversária, que tem um currículo menos extenso na vida pública. Serra, que prevê uma eleição disputada, voltou a acusar os petistas de fazer terrorismo eleitoral ao difundir a tese de que, uma vez eleito, vai privatizar empresas e acabar com programas iniciados no governo Lula, como o Prouni e o próprio Bolsa-Família.
"Eles estão fazendo terrorismo eleitoral quando dizem que eu vou acabar com o Prouni. Eles mesmo assinam na internet essas coisas. Isso nunca me passou pela cabeça. É como dizer que é contra a energia elétrica e a água encanada. Esse é o método terrorista. Não violento, mas terrorista", avaliou o tucano, que propõe a expansão do ensino técnico e profissionalizante por meio de um novo programa, o Protec.
Serra também aproveitou para cobrar um pedido de desculpas da ex-ministra da Casa Civil por conta da elaboração de um suposto dossiê contra ele e o PSDB. De acordo com as investigações, os documentos teriam sido levantados pela equipe de campanha de Dilma. "Deveria ter afastado pessoas, pedir desculpas. Agora, o que não pode dizer que o problema é da Receita. O que não pode também é culpar a vítima, o que significa que isso vai continuar", observou.