Título: Metais e aço garantem 89% dos investimentos em MG
Autor: Felício, César
Fonte: Valor Econômico, 29/06/2010, Empresas/Indústria, p. B7

Cenário: Minas Gerais fica mais dependente da siderurgia e da mineração

de Belo Horizonte

A recuperação da economia mineira está reforçando a dependência do Estado dos setores mineral e siderúrgico. Segundo dados divulgados ontem pelo governo estadual, houve um gigantesco salto em investimentos privados este ano: empresários já formalizaram a intenção de investir pouco mais de R$ 38 bilhões apenas nos seis primeiros meses de 2010, e a perspectiva é que sejam anunciados mais R$ 29 bilhões até o fim do ano. É mais que o dobro dos R$ 15,4 bilhões formalizados no ano passado e 50% acima do realizado ao longo de 2008.

Aumenta, contudo, a concentração nos setores tradicionais da economia. A mineração e a siderurgia, juntas, representavam 64% dos investimentos anunciados em 2008, percentual que subiu para 68% no ano seguinte e está atingindo 89% este ano.

O maior parte dos investimentos é o do reaproveitamento de minérios da Vale, por meios dos projeto Apolo, Vargem Grande e Itabira, que deve consumir R$ 9,5 bilhões para a sua conclusão. Dois compromissos de investimento em mineração de ferro no norte do Estado, dos consórcios Novo Horizonte e Sul América, somam mais R$ 6,8 bilhões. Na área siderúrgica o destaque é o investimento da ArcelorMittal na cidade de Juiz de Fora, no total de R$ 2,4 bilhões. No de agronegócio, o maior investimento previsto é na unidade de beneficiamento de fosfato da Fosfértil em Patrocínio, empreitada de R$ 2 bilhões.

A concentração em setores tradicionais tende a se manter, já que a siderurgia e a mineração somam 55,6% do que será anunciado nos próximos seis meses, mas a relação entre os dois setores se inverte bruscamente no período. Enquanto no primeiro semestre os investimentos na área mineral foram cerca de três vezes superiores aos da siderurgia, no resto do ano as promessas de inversões em siderurgia devem chegar a R$ 16 bilhões e em mineração não passar de R$ 148,2 milhões.

"Minas Gerais ainda está muito presa a algumas commodities", admitiu o governador Antonio Junho Anastasia (PSDB). Os investimentos em siderurgia, entretanto, animam o governador. "Minas tem uma necessidade premente de novas siderúrgicas, que agregam valor. Este tem sido nosso mantra", disse.

O governo mineiro prevê ainda a retomada dos investimentos em bioenergia, o que inclui a produção de etanol. Nos últimos dois anos, houve redução de compromissos de novas inversões na área, mas este ano já foram anunciados investimentos que somam R$ 2,314 bilhões e espera-se mais R$ 3,7 bilhões.

O resultado indica o fim dos efeitos no Estado de Minas Gerais da crise econômica global que causaram uma violenta depressão da economia no ano passado. Após cair cerca de 5% no ano , o PIB do Estado deve dar um salto de 10% em 2010, segundo estimou o secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Sérgio Barroso.

O total de investimentos aponta também para os primeiros resultados da nova estratégia tributária do governo estadual de competir com os estados que oferecem vantagens fiscais. Desde janeiro, sete protocolos de investimento foram anunciados na região da Zona da Mata, que conta com um regime especial tributário para concorrer com o do Rio de Janeiro, conhecido como "lei Rosinha", que criou uma região incentivada no município de Três Rios, passando a atrair empresas do outro lado da divisa. Os protocolos, somados, resultam em R$ 10 bilhões.

Barroso admitiu que o Estado poderá enfrentar gargalos a curto prazo, caso mantenha a trajetória de crescimento. "Um apagão na mão de obra está vindo aí, não sei quando ele vai chegar", comentou, referindo-se a uma possível escassez de mão de obra especializada.