Título: Fluxo a emergente traz riscos, diz BIS
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 29/06/2010, Finanças, p. C7

Política monetária: Enxurrada de dólares pode forçar países a subir juros e flexibilizar câmbio

de Genebra

O Banco Internacional de Compensações (BIS), banco dos bancos centrais, prevê a entrada de fluxos de capital "ainda mais importantes" nas economias emergentes, causando "volatilidade mais forte no câmbio" e trazendo sérios dilemas à política econômica.

Os fluxos podem estimular o crescimento econômico no médio prazo, mas "ser desestabilizadores", diz o BIS. E não vê outra alternativa para os emergentes a não ser subir as taxas de juros, aceitar uma maior flexibilidade no câmbio e reduzir o recurso à intervenção no mercado de divisas, para alcançar um "ajuste macroeconômico coordenado no médio prazo".

Investidores internacionais, detentores ainda de importantes ativos muito líquidos, segundo o BIS, são atraídos por mercados emergentes em razão dos juros altos, expectativa de valorização da moeda, crescimento econômico e condições favoráveis de financiamento externo.

Esse crescimento e o retorno das entradas de capital expõem de novo as autoridades a velhas pressões (inflação, rápida expansão do crédito, apreciação da moeda e efervescência dos preços de ativos) que já tiveram de afrontar antes da crise global recente.

O presidente do Banco Central do Brasil, Henrique Meirelles, que participou das reuniões na Basileia, declarou estar "sempre preocupado" com eventual criação de bolhas, a partir do fluxo enorme de capital externo, e acenou com medidas prudenciais e o instrumento de compra de dólares para as reservas.

O BIS considera que "resistir a pressões sobre o câmbio associados a esses fluxos (de capitais externos) estimularia o crescimento do crédito e acentuaria o risco de uma disparada dos preços dos ativos". E aponta várias vantagens na flexibilidade cambial, como frear o aumento no setor privado de "exposições imprudentes" ao risco de divisas e ser "muito útil" para desestimular entradas de capital de curto prazo associadas a operações de "carry-trade".

Mas essa maior flexibilidade pode levar o câmbio a valorizar-se "temporariamente" a níveis insustentáveis para logo voltar ao seu ponto de equilíbrio.

Já enfrentar entradas de capital com novas intervenções em grande escala no mercado de divisas pode ser custoso e arriscado. O BIS estima que as intervenções ajudem a relaxar as condições monetárias e financeiras, acelerando o crescimento do crédito e criando riscos para o sistema financeiro.

A esterilização prolongada da intervenção pode ser custosa, uma vez que o BC troca ativos nacionais de alta rentabilidade por reservas de baixa rentabilidade.

O banco vê alternativa no uso de medidas prudenciais, inclusive em relação a consequências negativas na expansão do crédito. Mas ressalta que medidas prudenciais, como elevação do compulsório, não são substitutivos de uma política monetária restritiva nem a uma maior flexibilidade do câmbio para fomentar "ajustes internos e externos ordenados e sustentáveis".

Nota que, em vários países, o crescimento rápido do crédito bancário tem sido acompanhado de forte incremento nos preços de imóveis. E aponta que, apesar disso, as condições monetárias continuam "acomodatícias" em numerosos emergentes.

Os bancos centrais da Austrália, Brasil, Índia, Israel, Malásia e Noruega elevaram as taxas de juros oficiais ao ver afastada a ameaça de grave contração e aparecer tensões inflacionárias, mas as taxas "permanecem em níveis reduzidos em relação aos padrões históricos".

Para o banco dos BCs, pode ser necessário que os países desenvolvidos comecem a elevar seus juros, porque a taxa excepcionalmente baixa tem efeitos secundários que atingem também os emergentes e exportadores de commodities.

Jaime Caruana, diretor-geral do BIS, aponta três desafios imediatos: as economias desenvolvidas precisam iniciar uma redução "convincente" de seus déficits fiscais; o setor financeiro precisa ajustar seus balanços e mudar o comportamento em relação a risco; e um acordo rápido precisa ser concluído sobre a reforma da regulação financeira.