Título: Sem alianças, Garotinho desiste do governo
Autor: Moura , Paola
Fonte: Valor Econômico, 01/07/2010, Política, p. A6

A dificuldade encontrada pelo ex-governador do Rio Anthony Garotinho para liberar-se da decisão do Tribunal Regional Eleitoral do Rio (TRE-RJ), que o proibiu de disputar cargos políticos de 2008 a 2011, impediu que fossem negociadas alianças para seu eventual retorno ao governo do Estado. Na noite de terça-feira, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tirou de Garotinho o carimbo de inelegível, mas, mesmo assim, ele desistiu da candidatura a governador e resolveu disputar a cadeira de deputado federal.

Uma coligação fraca não teria dado a Garotinho tempo de televisão suficiente para enfrentar seu principal adversário, o governador Sérgio Cabral (PMDB), que conta com apoio de 16 partidos.

Durante discurso na convenção do PR realizada ontem no Rio, Garotinho já dava sinais de que iria desistir, acusando Cabral de perseguição política e dizendo ser ele o responsável pelas decisões do TRE que complicaram seu processo de alianças.

Mas, até às 19h, Garotinho ainda tentava negociar alianças fortes para manter sua candidatura. Uma delas foi fechada logo cedo, com o PT do B. O partido oferece a candidatura ao Senado de Waguinho, ex-cantor de pagode e atual pastor da Igreja Assembleia de Deus dos Últimos Dias, e pede um vice na sua chapa. Mas Garotinho queria mesmo era atrair para companheiro de chapa o atual senador Marcelo Crivela (PRB-RJ), que está em primeiro lugar nas pesquisas. No entanto, teria que enfrentar resistências do deputado federal e pastor da Assembleia de Deus Manoel Ferreira (PR-RJ), que também queria a vaga na chapa.

Garotinho chegou a dizer que o deputado Manoel Ferreira teria sido convidado para participar da campanha presidencial da ex-ministra Dilma Rousseff como coordenador das igrejas evangélicas. Com isso, haveria espaço para Crivela assumir a vaga ao Senado. Garotinho disse que conversou também com Crivela durante a tarde de ontem, mas não quis revelar o teor da conversa.

O apoio de Waguinho era importante para o ex-governador. O cantor faz parte de uma igreja que tem muita força nas comunidades carentes da região metropolitana do Rio. O principal líder da Assembleia de Deus dos Últimos Dias, o pastor Marcos Pereira é conhecido por ter trânsito livre nas comunidades mais violentas do Rio e se diz responsável por tirar pessoas do tráfico de drogas e intervir inclusive em "tribunais de julgamento" de bandidos.

Na convenção realizada ontem Garotinho fez um discurso dúbio, apresentou propostas para educação, saúde, de reativação de programas sociais como o cheque-cidadão e de restaurantes populares. Criticou fortemente o governador Sérgio Cabral. Lamentou não ter força suficiente para enfrentar a máquina política do atual governador e se disse perseguido e com pouco tempo de televisão.

Foi Garotinho quem anunciou, mais tarde, a candidatura de Fernando Peregrino ao governo do Estado no seu lugar. Peregrino foi secretário de Ciência e Tecnologia do seu governo e chefe de governo de Rosinha, mulher de Garotinho. O vice da chapa será o Pastor Davi Cabral, presidente das Assembleias de Deus - Ministério de Madureira e do Sul Fluminense. O PR não terá candidatura própria ao Senado, mas vai apoiar os candidatos do PT do B, o ex-deputado estadual Carlos Dias, que é ligado ao movimento católico, e o cantor Waguinho.