Título: Serra aceita Indio da Costa por tempo de TV
Autor: Ulhôa , Raquel
Fonte: Valor Econômico, 01/07/2010, Política, p. A10

O deputado Antonio Pedro Indio da Costa, 39, foi aprovado ontem candidato a vice-presidente na chapa do tucano José Serra, por aclamação, na convenção do Democratas - aos gritos de "lindo, lindo"-, pondo fim ao impasse entre DEM e PSDB em torno da vaga, que já durava cinco dias e chegou a ameaçar a coligação. Se o DEM se retirasse da disputa presidencial, Dilma Rousseff poderia ficar com o dobro do tempo de televisão de Serra.

A escolha de Indio, afilhado político do ex-prefeito do Rio de Janeiro, César Maia (DEM), fortalece a posição do presidente do partido, deputado federal Rodrigo Maia. Filho do ex-prefeito, Maia encabeçou a resistência do DEM à indicação do senador Álvaro Dias (PSDB), conseguiu retomar o diálogo com Serra e deu a palavra final sobre a escolha de Indio, após ouvir o pai.

A chance de o DEM ocupar a vaga de vice-presidente começou na noite da véspera, quando os lideres do partido estavam reunidos em Brasília, na casa do senador Heráclito Fortes (DEM-PI), para tentar encontrar solução para o impasse com o PSDB e chegou a notícia de que o senador Osmar Dias (PDT-PR) havia se lançado candidato ao governo do Paraná, com apoio do PT.

Esse fato minou de vez qualquer chance de Álvaro Dias, irmão de Osmar, ser aceito como vice. O objetivo da escolha de Álvaro era evitar que Osmar disputasse, dando palanque forte para a candidata do PT a presidente, Dilma Rousseff, no Paraná.

Osmar tinha acordo de não se lançar candidato a governador e ficar ao lado do irmão no projeto nacional. Com o descumprimento, Álvaro perdeu o principal argumento a seu favor.

Até mesmo Serra mostrou descontentamento com o gesto de Osmar. "Que foi surpreendente, foi", disse ele, em Brasília, após a convenção do DEM, ao lado do vice já indicado. Ele elogiou Álvaro, a quem considerou "preparado, competente, que fala para o Brasil", e admitiu que sua escolha tinha, também, uma "perspectiva política que não se materializou".

Quando a notícia do lançamento de Osmar chegou aos líderes do DEM, eles ainda estavam diante do impasse entre aceitar ou não Álvaro. Maia e Agripino já vinham de um dia todo de reunião em São Paulo com Serra e Guerra, em que não houve solução. Sem Álvaro, com o jogo zerado, Maia viajou para São Paulo na madrugada, para reabrir as negociações com os tucanos. Nas conversas, alguns nomes do PSDB foram citados - o mais forte deles do deputado Gustavo Fruet (PR).

No entanto, Rodrigo e o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, presidente do Conselho político do DEM, passaram a defender que o vice fosse do DEM. Alegavam que seria um gesto de Serra que não só acabaria com o desgaste na relação entre os aliados como também daria empolgação maior à campanha.

Argumento vencido, o critério da densidade eleitoral contou a favor de Índio. O Rio é o terceiro maior colégio eleitoral do país e a aliança que apoia Serra não tem candidato próprio a governador. Apoia a candidatura do deputado Fernando Gabeira (PV), cujo partido tem candidata a presidente, a senadora Marina Silva (AC). Índio foi o indicado pela ligação com a família Maia, por ser um político jovem e ter participado, como relator, do projeto "Ficha Limpa", hoje transformado em lei, que impede a candidatura de pessoas condenadas por crimes graves em um colegiado de primeira instância.

"Vai ser um parceiro de primeira", afirmou Serra, ressaltando a ligação de Índio com as questões ambientais e o fato de ser do Rio. O ex-governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), foi chamado a participar das conversas entre Serra e Maia, em São Paulo, por sua amizade com Rodrigo. Enquanto eles estavam reunidos, a convenção do DEM, marcada para as 8h, havia sido aberta pelo deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (DEM-BA) e estava suspensa, aguardando o resultado das negociações.

A cúpula demista estava bem humorada, comemorando o fato de o partido já ser vencedor com a retomada do diálogo. O presidente de honra do partido, ex-senador Jorge Bornhausen, e as principais lideranças do DEM foram almoçar em uma churrascaria próxima ao hotel em que a convenção estava sendo realizada e lá passaram por um constrangimento: Álvaro estava em uma mesa, com jornalistas.

O encontro foi cordial. Bornhausen fez questão de dizer que o DEM não fez qualquer crítica a ele. O problema era quanto à forma da escolha, já que o partido foi preterido. Só depois do almoço, voltando à convenção, Índio recebeu telefonema de Maia com a informação de que havia sido escolhido. "Foi uma enorme surpresa", disse no curto discurso, após ser homologado a vice.

"Ele soma pelo ânimo que os democratas ganham para a campanha", afirmou Jorge Bornhausen. "Sua escolha foi resultado da audácia e ousadia dos mais jovens, com a prudência dos mais antigos", disse o líder do DEM no Senado, José Agripino (RN). "Ele traz juventude, cara limpa num espaço que ninguém tinha ocupado na campanha."